Este país é um colosso. Tá tudo grosso! Tá tudo grosso! Anda tudo a fazer pouco... da gente!!!
Lembram-se?
Era um dos sketchs feitos pela Ivone Silva e penso que pelo Camilo de Oliveira num daqueles programas da RTP 1 e continua tão atual como sempre.
Com uma diferença - os portugueses aprenderam a queixar-se, a choramingar, a fazerem-se de coitadinhos, desgradaçadinhos, VITIMAS...
É que já não há paciência. Eu sei que as coisas estão péssimas, senti-o na pele, no negócio que achei que ia ser o meu salto para outro nível, sinto-o todos os dias quando vejo os preços a subir mais rápido que os balões de ar quente. Mas daí até andar toda a gente com cara de "todos me devem e ninguém me paga", vai uma senhora distância. Os portugueses têm que começar a olhar um bocadinho mais além do próprio umbigo, a ser menos egoistas e sobretudo a pararem com a história da desgradaçadinha.
BOLAS. O fado foi promovido a Património da Humanidade, mas isso não quer dizer que façamos da lamentação o nosso lema colectivo. Abstenham-se, se faz favor. Já chega de vitimismo (não sei se esta palavra existe, mas é óptima para este caso), comecem a levantar a cabeça e a mostrar algum orgulho.
CARAÇAS! Mas nós somos descendentes de Vasco da Gama ou do Rato Mickey?
E que tal pararem de se queixar e começarem a procurar o que fazer? Ok, eu concordo, os empregos estão difíceis, mas ainda há trabalho...
Às vezes dá-me uma vontade de abrir a boca e começar a insultar determinado tipo de gente. A sério!!!???
É mesmo necessário andar toda a gente mal disposta e com cara de cú? Não podemos seguir o exemplo dos brasileiros? Hoje tem arroz, amanhã a gente vê... Vá lá, vamos começar a pensar que já vivemos muito pior.
Quando eu era miúda a televisão tinha dois canais e os dois eram a preto e branco. E não havia cá comandos. Levantávamos o rabinho do sofá (mais cadeiras, mas pronto) e mudávamos de canal no botãozinho da televisão - uma maneira de fazer exercício.
Compravam-se coisas como bolachas, chocolates e afins quando o rei fazia anos e não todos os dias.
Almoçava-se fora em dias de festa e não sempre que não nos apetece cozinhar.
Compravam-se sapatos quando se precisava deles e não porque são giros, baratos e toda a gente tem.
E a roupa seguia pelo mesmo caminho...
E os presentes de Natal eram aguardados com muita expectativa, porque eram mesmo necessários, e não superficiais como são agora.
Francamente, acho que mesmo as pessoas mais velhas parece que já se esqueceram do que era a vida antigamente, sem as tretas e as manias que hoje temos. Sem luxos, sem consumismos...
É urgente que os portugueses comecem a fazer contas à vida e percebam que nem toda a gente pode gastar o mesmo só porque o vizinho gasta, ou ter o que o vizinho tem, ou ir de férias para os mesmos sítios, ou comprar as mesmas roupas, sapatos, carros, mobílias, etc.
Perderam-se tantos valores...
Já não se aproveita, fica tudo escandalizado com a palavra aproveitar. Que eu saiba o desperdício é que é mau. Sempre me ensinaram desde pequenina que no aproveitar é que está o ganho...
Pois eu ainda me lembro e por isso aproveito o que posso, em termos de comida, roupa, etc. Não vejo mal nenhum nisso. Aproveito as promoções, os cupões e os talões e as aproximações do fim de validade e cozinho e congelo e reciclo e quem não gosta temos pena. A vida não está para brincadeiras e antes aproveitar do que faltar comida na mesa.
Esta mania das grandezas que atingiu os portugueses vai ter que acabar. A bem ou a mal e o mais certo é ser a mal.
Eu por mim já comecei a fazer as minhas conservas e compotas, os meus rissóis, pasteis e croquetes, para as emergências. E quem não sabe acho melhor começar a pensar em aprender, que as empregadas domésticas também devem ter tendência a acabar. São um luxo, como tantos outros.
Conheço pessoas que nem trabalham, estão em casa e têm uma empregada porque "não tenho jeito para cozinhar, não sei passar a ferro, não gosto muito destas coisas da casa". Tenham dó!
Toda a gente sabe, só é preciso querer... E o problema é que as pessoas não querem. Acomodaram-se, estão bem assim.
Estou mesmo sem paciência para estas tretas.
Como diz a outra: "Cresçam e apareçam!"
E rápido, se faz favor!!!
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Já tou farta de tanta crise e de tanta choraminguice...
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Perdi um amigo
Um membro da familia!
A minha familia hoje ficou mais pequena. Perdemos um dos nossos membros mais queridos.
O Trovão, o nosso Serra da Estrela despediu-se hoje de uma vida longa para um cão, mas pequena para o carinho que todos tínhamos por ele.
O Trovão era quase cachorro quando eu o conheci. enorme, como convém a um Serra da Estrela teve sempre um cuidado especial no contacto com a minha filha mais nova. Ela sabia que era mais pequenina, mais frágil.
Por isso, sempre que a pequena se aproximava dele, deitava-se e abanava o rabo à espera de festas. E punha a sua pata com muito cuidado na mãozita dela. A pata dele era maior que a mão da minha filha e ela sempre adorou aquele momento dos dois.
Quando eu saia de casa mais cedo que todos, o Trovão dizia-me sempre bom dia. em linguagem de cão, claro, mas dizia.
Teve uma vida longa e sofrida. Tinha uma otite quase crónica. Lembro-me de um Inverno em que tomou imenso antibiótico, o que era sempre uma "tourada".
Eu chegava com o comprimido muito bem "disfarçado" no meio de fiambre, carne ou qualquer outro petisco e estendia-lhe a mão.
Um cão muito esperto, é o que vos digo - apanhava o petisco, cuspia o comprimido e comia o resto.
Eu punha a minha cara de mãe mais séria e ralhava-lhe:
- Trovão! Sabes que estás doente. Tens que tomar o comprimido. Ai o menino...
Ele olhava para mim, com uns enormes olhos castanhos e tenho a certeza que a maior parte das vezes se estava a rir do meu desespero. Eu pegava no comprimido, punha na palma da mão e volta a estendê-lo.
Acreditem ou não, ele comia-o.
Comia mesmo.
Tenho a certeza que ele sabia que precisava daquilo para ficar melhor e por isso rendia-se. Mas primeiro gostava de gozar comigo. E eu deixava.
Vou ter muitas saudades tuas Trovão. Vais fazer muita falta na nossa vida.
Agora que podes finalmente descansar em paz, acredita que ninguém jamais te vai esquecer.
Adeus Trovão.
O Trovão, o nosso Serra da Estrela despediu-se hoje de uma vida longa para um cão, mas pequena para o carinho que todos tínhamos por ele.
O Trovão era quase cachorro quando eu o conheci. enorme, como convém a um Serra da Estrela teve sempre um cuidado especial no contacto com a minha filha mais nova. Ela sabia que era mais pequenina, mais frágil.
Por isso, sempre que a pequena se aproximava dele, deitava-se e abanava o rabo à espera de festas. E punha a sua pata com muito cuidado na mãozita dela. A pata dele era maior que a mão da minha filha e ela sempre adorou aquele momento dos dois.
Quando eu saia de casa mais cedo que todos, o Trovão dizia-me sempre bom dia. em linguagem de cão, claro, mas dizia.
Teve uma vida longa e sofrida. Tinha uma otite quase crónica. Lembro-me de um Inverno em que tomou imenso antibiótico, o que era sempre uma "tourada".
Eu chegava com o comprimido muito bem "disfarçado" no meio de fiambre, carne ou qualquer outro petisco e estendia-lhe a mão.
Um cão muito esperto, é o que vos digo - apanhava o petisco, cuspia o comprimido e comia o resto.
Eu punha a minha cara de mãe mais séria e ralhava-lhe:
- Trovão! Sabes que estás doente. Tens que tomar o comprimido. Ai o menino...
Ele olhava para mim, com uns enormes olhos castanhos e tenho a certeza que a maior parte das vezes se estava a rir do meu desespero. Eu pegava no comprimido, punha na palma da mão e volta a estendê-lo.
Acreditem ou não, ele comia-o.
Comia mesmo.
Tenho a certeza que ele sabia que precisava daquilo para ficar melhor e por isso rendia-se. Mas primeiro gostava de gozar comigo. E eu deixava.
Vou ter muitas saudades tuas Trovão. Vais fazer muita falta na nossa vida.
Agora que podes finalmente descansar em paz, acredita que ninguém jamais te vai esquecer.
Adeus Trovão.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
A Margarida!
A Margarida é a princesa da família!
Nasceu num campo de golfe e foi-me oferecida pelo meu "chatinho" quando ainda era bebé.
É assim a coisa mais fofa que podem imaginar.
Surda que nem um portão. Não ofendendo os portões!
É completamente branca, e tem um olho de cada côr: um verde e um azul.
É um verdadeiro traste.
Uma "Cabra do Mato", como eu lhe costumo chamar carinhosamente.
Também é muito meiguinha. Adoptou-me como mãe e eu adoptei-a no meu coração.
A Maggie é parte integrante da família.
E muito mimada! Mesmo muito!
Há cá em casa quem a deixe fazer tudo o que ela quer.
Quem se levante do computador para a ir escovar, dar-lhe biscoitos, brincar com ela.
Quem a deixe subrepticiamente entrar no quarto à noite e saltar para cima da cama: "ela escapou-se".
Pois claro.
Às vezes ficamos verdadeiramente espantados com ela. Muito esperta, sabe bem o que quer e como o conseguir.
E se quiser colo, ninguém a demove. Até é capaz de atacar revistas, livros ou seja o que for que se interponha entre ela e o colinho escolhido para a sestinha da praxe.
Agora estou a trabalhar em casa e a usar o escritório onde costumava trabalhar o meu... já sabem, não é preciso dizer.
A Maggie passa o dia deitada ao pé de mim e de vez em quando faz umas tangentes às minhas pernas, que é como quem diz - roça-se violentamente à procura de mimo.
Arranjei para aqui um aquecedor e ela decidiu adoptá-lo, afinal se dá luz (é daqueles de barrinhas, estão a ver?), dá calor.
Então todas as manhãs temos um novo ritual: Eu chego, sento-me, começo a trabalhar e ela chega logo a seguir e faz aquele ruidinho que não é bem um miado, mas mais um gemidinho de queixume, muito fofinho a pedir para ligar o seu aquecedor.
Pus-lhe uma mantinha no chão e ela passa os dias a virar-se para um lado e para o outro nas posições mais estranhas que possam imaginar e dorme, dorme, dorme...
Eu sei que é só uma gata, mas a verdade é que ela faz imensa companhia.
Tenho quase a certeza que ela sabe sempre quando estou triste, cansada, aborrecida ou feliz, bem disposta e cheia de energia.
A Margarida é assim como a minha terceira filha e não consigo imaginar o meu núcleo sem ela, sem os pêlos por todo o lado, sem as suas patinhas cor-de-rosa a derraparem no chão cá de casa.
Quando as miúdas saem aninhamo-nos as duas no sofá, com a "Polónia" (eu depois explico), e adormecemos as duas muito aconchegadas e consoladas.
No meio deste ano terrível que nunca mais acaba e que tem sido um verdadeiro desenrolar de coisas más, a Margarida nunca falha.
Eu acordo, ela aparece na cozinha...
Eu começo a trabalhar, ela pede para ligar o aquecedor...
Eu estou triste, ela pede festas...
Eu faço bolos, ela lambe as tigelas...
Eu vou ao frigorifico, ela pede leite...
Eu meto-me com ela, ela arranha-me...
Eu adoro-o e aposto que se ela soubesse falar dizia o mesmo a meu respeito...
Nasceu num campo de golfe e foi-me oferecida pelo meu "chatinho" quando ainda era bebé.
É assim a coisa mais fofa que podem imaginar.
Surda que nem um portão. Não ofendendo os portões!
É completamente branca, e tem um olho de cada côr: um verde e um azul.
É um verdadeiro traste.
Uma "Cabra do Mato", como eu lhe costumo chamar carinhosamente.
Também é muito meiguinha. Adoptou-me como mãe e eu adoptei-a no meu coração.
A Maggie é parte integrante da família.
E muito mimada! Mesmo muito!
Há cá em casa quem a deixe fazer tudo o que ela quer.
Quem se levante do computador para a ir escovar, dar-lhe biscoitos, brincar com ela.
Quem a deixe subrepticiamente entrar no quarto à noite e saltar para cima da cama: "ela escapou-se".
Pois claro.
Às vezes ficamos verdadeiramente espantados com ela. Muito esperta, sabe bem o que quer e como o conseguir.
E se quiser colo, ninguém a demove. Até é capaz de atacar revistas, livros ou seja o que for que se interponha entre ela e o colinho escolhido para a sestinha da praxe.
Agora estou a trabalhar em casa e a usar o escritório onde costumava trabalhar o meu... já sabem, não é preciso dizer.
A Maggie passa o dia deitada ao pé de mim e de vez em quando faz umas tangentes às minhas pernas, que é como quem diz - roça-se violentamente à procura de mimo.
Arranjei para aqui um aquecedor e ela decidiu adoptá-lo, afinal se dá luz (é daqueles de barrinhas, estão a ver?), dá calor.
Então todas as manhãs temos um novo ritual: Eu chego, sento-me, começo a trabalhar e ela chega logo a seguir e faz aquele ruidinho que não é bem um miado, mas mais um gemidinho de queixume, muito fofinho a pedir para ligar o seu aquecedor.
Pus-lhe uma mantinha no chão e ela passa os dias a virar-se para um lado e para o outro nas posições mais estranhas que possam imaginar e dorme, dorme, dorme...
Eu sei que é só uma gata, mas a verdade é que ela faz imensa companhia.
Tenho quase a certeza que ela sabe sempre quando estou triste, cansada, aborrecida ou feliz, bem disposta e cheia de energia.
A Margarida é assim como a minha terceira filha e não consigo imaginar o meu núcleo sem ela, sem os pêlos por todo o lado, sem as suas patinhas cor-de-rosa a derraparem no chão cá de casa.
Quando as miúdas saem aninhamo-nos as duas no sofá, com a "Polónia" (eu depois explico), e adormecemos as duas muito aconchegadas e consoladas.
No meio deste ano terrível que nunca mais acaba e que tem sido um verdadeiro desenrolar de coisas más, a Margarida nunca falha.
Eu acordo, ela aparece na cozinha...
Eu começo a trabalhar, ela pede para ligar o aquecedor...
Eu estou triste, ela pede festas...
Eu faço bolos, ela lambe as tigelas...
Eu vou ao frigorifico, ela pede leite...
Eu meto-me com ela, ela arranha-me...
Eu adoro-o e aposto que se ela soubesse falar dizia o mesmo a meu respeito...
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Os comentários na net!
Esta é uma daquelas coisas que me faz mesmo confusão.
Quando não temos nada para dizer o melhor é calarmo-nos. Certo?
Pelo menos foi assim que sempre me ensinaram.
Já repararam que os comentários das pessoas na net a notícias, fotos, etc, é sempre negativo?
Pior, já repararam como as pessoas escrevem mal hoje em dia?
Não há respeito pelas maiúsculas e minúsculas, pelas vírgulas ou pontos finais.
Enfim, não há respeito pela língua portuguesa.
Hoje atingi o meu limite com os comentários feitos no SapoFama, à reportagem sobre o velório da Fátima Raposo.
Os portugueses são tétricos, macabros.
Acham que devia estar toda a gente lavada em lágrimas, a chorar baba e ranho e a assoar os narizes até lhes gastar a pele.
Como se a dor das pessoas se medisse pelas lágrimas que choram em público!
Como se a dor não ficasse para sempre alojada nos corações de todos os que gostavam da Fátima.
Eu conheci a Fátima. Não éramos amigas, nem nada disso. Passámos umas férias juntas porque o namorado que ela tinha na época e o meu marido, que ainda tenho, são amigos há muitos anos.
Quando soube do acidente fiquei chocada.
Somos da mesma idade e a filha dela é mais ou menos da idade das minhas.
Durante o tempo em que convivi com ela, achei-a uma pessoa muito meditativa e introspectiva. Metida no seu mundo. Muito sensível, o que explica a sua opção pela pintura e filosofia de vida que escolheu nos últimos anos.
Não tinha idade para morrer.
Enquanto as pessoas que comentaram a notícia viram os sorrisos, eu vi os olhos.
Vi os olhos tristes e cheios de dor do Zé Manel Saraiva e da Palmira Correia.
Vi os olhos da Inês Pais.
Vi os olhos tristes das pessoas.
Vi as bonitas tentativas das amigas da Inês para a animarem. E arrancaram-lhes uns sorrisos. Ainda bem. É bom que ela não tenha perdido a capacidade de sorrir.
Onde quer que esteja a mãe vai querer que ela continue a sorrir.
Não é o que todas as mães querem?
As pessoas deviam pensar melhor antes de darem palpites sobre assuntos, que não lhes dizem respeito e sobre os quais nada sabem.
Onde quer que estejas - Paz à tua alma Fátima.
Quando não temos nada para dizer o melhor é calarmo-nos. Certo?
Pelo menos foi assim que sempre me ensinaram.
Já repararam que os comentários das pessoas na net a notícias, fotos, etc, é sempre negativo?
Pior, já repararam como as pessoas escrevem mal hoje em dia?
Não há respeito pelas maiúsculas e minúsculas, pelas vírgulas ou pontos finais.
Enfim, não há respeito pela língua portuguesa.
Hoje atingi o meu limite com os comentários feitos no SapoFama, à reportagem sobre o velório da Fátima Raposo.
Os portugueses são tétricos, macabros.
Acham que devia estar toda a gente lavada em lágrimas, a chorar baba e ranho e a assoar os narizes até lhes gastar a pele.
Como se a dor das pessoas se medisse pelas lágrimas que choram em público!
Como se a dor não ficasse para sempre alojada nos corações de todos os que gostavam da Fátima.
Eu conheci a Fátima. Não éramos amigas, nem nada disso. Passámos umas férias juntas porque o namorado que ela tinha na época e o meu marido, que ainda tenho, são amigos há muitos anos.
Quando soube do acidente fiquei chocada.
Somos da mesma idade e a filha dela é mais ou menos da idade das minhas.
Durante o tempo em que convivi com ela, achei-a uma pessoa muito meditativa e introspectiva. Metida no seu mundo. Muito sensível, o que explica a sua opção pela pintura e filosofia de vida que escolheu nos últimos anos.
Não tinha idade para morrer.
Enquanto as pessoas que comentaram a notícia viram os sorrisos, eu vi os olhos.
Vi os olhos tristes e cheios de dor do Zé Manel Saraiva e da Palmira Correia.
Vi os olhos da Inês Pais.
Vi os olhos tristes das pessoas.
Vi as bonitas tentativas das amigas da Inês para a animarem. E arrancaram-lhes uns sorrisos. Ainda bem. É bom que ela não tenha perdido a capacidade de sorrir.
Onde quer que esteja a mãe vai querer que ela continue a sorrir.
Não é o que todas as mães querem?
As pessoas deviam pensar melhor antes de darem palpites sobre assuntos, que não lhes dizem respeito e sobre os quais nada sabem.
Onde quer que estejas - Paz à tua alma Fátima.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Somos o espelho dos nossos pais?
NÃO!
Tenho mesmo a certeza de que não.
Se fossemos eu seria uma pessoínha horrível.
Uma mulher fria, seca e mal-amada.
Uma mãe distante e desligada.
Uma amiga que ninguém quereria ter.
E felizmente não sou.
Às vezes quando estou a ver alguns programas na televisão em que as pessoas se desculpam das suas atitudes com os maus tratos da infância e a falta de carinho que tiveram, apetece-me imenso abaná-las até lhes cairem os dentes.
A sério?
Nunca tiveram amor e por isso também não o têm para dar?
Não me venham com tretas.
Faz parte do nosso percurso como seres humanos crescer e melhorar.
Esta gente nunca ouviu dizer que o que não nos mata nos torna mais fortes?
Então só porque nos maltrataram também temos que maltratar?
Porquê? Para nos vingarmos? De quem nos maltratou ou de quem sofre com os nossos maus tratos?
Era bonito eu agora começar a massacrar as minhas filhas só porque me massacraram a mim.
Lembro-me muitas vezes de uma frase que me dizia a minha mãe na infância:
- Quando fores mãe vais perceber...
Já fui mãe há quase vinte anos e cada vez percebo menos as atitudes dela.
Porque antes de ser mãe já amava as minhas filhas e o meu propósito enquanto mãe é que elas sejam felizes.
Que sejam mulheres justas, equilibradas, responsáveis, bem formadas. E acima de tudo que respeitem os outros. Que não pisem ninguém para atingir os seus objectivos.
E tenho um propósito mais secreto.
Quero que quando falem de mim, tenham orgulho de serem minhas filhas.
Que me considerem a melhor mãe que poderiam ter tido. Que me respeitem sempre.
E que quando forem mães o seu papel junto dos filhos me tenham como modelo.
Quero ser um MODELO para as minhas filhas.
Quero que continuem as tradições de Natal, Páscoa, aniversários e todas as outras que são nossas e que começaram comigo e com elas.
Quero que se lembrem de mim quando embrulharem os presentes de Natal todos iguais, para a árvore de Natal ficar bonita.
Quero que se lembrem de mim quando decidirem que o amarelo é a cor que combina mais com a Páscoa.
Quero que se lembrem de mim quando fizerem os bolos de aniversários dos filhos. E lhes planearem as festas.
Quero que se lembrem de mim quando os obrigarem a vestir-se de uma cor que combine com a decoração de Natal desse ano.
Quero que se lembrem de mim como uma pessoa importante na vida delas e que, mesmo depois de já não estar fisicamente, continue a ser recordada com carinho.
As minhas filhas são o meu orgulho.
Um orgulho muito grande.
Somos uma equipa, um trio unido. Discutimos, ralhamos, mas estamos sempre lá umas para as outras.
Espero que para sempre.
Com elas, com o meu chatinho, a filha dele e a gata, construí um mundo que me protege de tudo.
Tenho uma família, que pode não ser típica, mas que é a que eu escolhi.
A que eu amo e que me ama incondicionalmente.
A minha família!
Tenho mesmo a certeza de que não.
Se fossemos eu seria uma pessoínha horrível.
Uma mulher fria, seca e mal-amada.
Uma mãe distante e desligada.
Uma amiga que ninguém quereria ter.
E felizmente não sou.
Às vezes quando estou a ver alguns programas na televisão em que as pessoas se desculpam das suas atitudes com os maus tratos da infância e a falta de carinho que tiveram, apetece-me imenso abaná-las até lhes cairem os dentes.
A sério?
Nunca tiveram amor e por isso também não o têm para dar?
Não me venham com tretas.
Faz parte do nosso percurso como seres humanos crescer e melhorar.
Esta gente nunca ouviu dizer que o que não nos mata nos torna mais fortes?
Então só porque nos maltrataram também temos que maltratar?
Porquê? Para nos vingarmos? De quem nos maltratou ou de quem sofre com os nossos maus tratos?
Era bonito eu agora começar a massacrar as minhas filhas só porque me massacraram a mim.
Lembro-me muitas vezes de uma frase que me dizia a minha mãe na infância:
- Quando fores mãe vais perceber...
Já fui mãe há quase vinte anos e cada vez percebo menos as atitudes dela.
Porque antes de ser mãe já amava as minhas filhas e o meu propósito enquanto mãe é que elas sejam felizes.
Que sejam mulheres justas, equilibradas, responsáveis, bem formadas. E acima de tudo que respeitem os outros. Que não pisem ninguém para atingir os seus objectivos.
E tenho um propósito mais secreto.
Quero que quando falem de mim, tenham orgulho de serem minhas filhas.
Que me considerem a melhor mãe que poderiam ter tido. Que me respeitem sempre.
E que quando forem mães o seu papel junto dos filhos me tenham como modelo.
Quero ser um MODELO para as minhas filhas.
Quero que continuem as tradições de Natal, Páscoa, aniversários e todas as outras que são nossas e que começaram comigo e com elas.
Quero que se lembrem de mim quando embrulharem os presentes de Natal todos iguais, para a árvore de Natal ficar bonita.
Quero que se lembrem de mim quando decidirem que o amarelo é a cor que combina mais com a Páscoa.
Quero que se lembrem de mim quando fizerem os bolos de aniversários dos filhos. E lhes planearem as festas.
Quero que se lembrem de mim quando os obrigarem a vestir-se de uma cor que combine com a decoração de Natal desse ano.
Quero que se lembrem de mim como uma pessoa importante na vida delas e que, mesmo depois de já não estar fisicamente, continue a ser recordada com carinho.
As minhas filhas são o meu orgulho.
Um orgulho muito grande.
Somos uma equipa, um trio unido. Discutimos, ralhamos, mas estamos sempre lá umas para as outras.
Espero que para sempre.
Com elas, com o meu chatinho, a filha dele e a gata, construí um mundo que me protege de tudo.
Tenho uma família, que pode não ser típica, mas que é a que eu escolhi.
A que eu amo e que me ama incondicionalmente.
A minha família!
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Estou farta de me sentir blue!
Está decidido. Daqui a dez minutos vou deixar de me sentir blue.
Estou cansada de estar triste. De me sentir culpada, por coisas das quais não tenho culpa nenhuma.
De achar que tenho que resolver os problemas de toda a gente.
Leiam o que vos escrevo!
Daqui a dez minutos vou voltar a ser eu.
E eu sou muito diferente.
Sou bem disposta, tenho sentido de humor e adoro viver.
Se eu voltar a parecer blue por favor batam-me.
Batam-me a sério. Com um taco de golfe ou coisa do género. Mas não deixem de me chamar a atenção.
Que raio. Afinal eu não fiz mal a ninguém.
Tentei e voltei a tentar. Não correu bem. Paciência.
"Bola pa frente!", como dizem os brasileiros.
Ou como se diz na minha terra: " o que não tem remédio, remediado está".
O que é uma grande verdade.
Ando aqui a criar rugas, cabelos brancos, hematomas psicológicos (como diz um amigo), para quê?
Não se resolve nada.
E ainda por cima enriqueço os laboratórios de Xanax.
Não contem mais comigo.
A partir de hoje "EU SOU MAIS EU!"
Estou de volta a mim.
Já tinha muitas saudades.
Estou cansada de estar triste. De me sentir culpada, por coisas das quais não tenho culpa nenhuma.
De achar que tenho que resolver os problemas de toda a gente.
Leiam o que vos escrevo!
Daqui a dez minutos vou voltar a ser eu.
E eu sou muito diferente.
Sou bem disposta, tenho sentido de humor e adoro viver.
Se eu voltar a parecer blue por favor batam-me.
Batam-me a sério. Com um taco de golfe ou coisa do género. Mas não deixem de me chamar a atenção.
Que raio. Afinal eu não fiz mal a ninguém.
Tentei e voltei a tentar. Não correu bem. Paciência.
"Bola pa frente!", como dizem os brasileiros.
Ou como se diz na minha terra: " o que não tem remédio, remediado está".
O que é uma grande verdade.
Ando aqui a criar rugas, cabelos brancos, hematomas psicológicos (como diz um amigo), para quê?
Não se resolve nada.
E ainda por cima enriqueço os laboratórios de Xanax.
Não contem mais comigo.
A partir de hoje "EU SOU MAIS EU!"
Estou de volta a mim.
Já tinha muitas saudades.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
A memória curta das pessoas!
Há coisas que nunca deixarão de me surpreender.
A capacidade que as pessoas têm para eliminarem da sua memória tudo o que é anterior a determinado acontecimento é uma delas.
A tendência visivel dos seres humanos para passarem uma esponja por cima de tudo o que não lhes convém no momento...
E acima de tudo a rapidez com que ignoram tudo o que viveram, conviveram, disseram e sentiram com alguém numa época da sua vida.
"Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães."
Uma pessoa que me é muito querida diz isto de vez em quando.
Começo a concordar verdadeiramente com esta pessoa.
Podemos conviver diariamente com as pessoas, mostrar o nosso lado A e o B, ou seja o melhor e o pior de nós.
Podemos ser o mais transparentes, correctos, educados, atenciosos, enfim as melhores pessoas do mundo.
Podem ter a certeza que no dia em que alguma coisa correr menos bem, essas pessoas vão ignorar tudo o que de bom aconteceu e tratar-vos como se não soubessem nada sobre vós.
É estranho e infelizmente nada que eu possa explicar melhor.
Convivi durante três anos com alguém que agora me acusa de ser mentirosa, trapaceira, cinica, e nem me lembro o quê mais...
Uma pessoa a quem sempre tratei o melhor possível.
Até quando era necessário chamar a atenção o fazia com luvas de pelica.
Que substituí para que pudesse descansar, melhorar, recompôr-se...
E agora sou acusada de ter mentido durante todo o tempo em que convivemos, de ter encarnado um papel e mostrado uma pessoa que afinal não era eu.
Devo ser uma actriz excelente. Nem sei como ainda não me deram um Óscar!
Sabem que mais?
Fiquei chateada. Com certeza que fiquei chateada!
Mas como diz o povo: "Os cães ladram e a caravana passa!"
Eu sou a caravana. O que é que isto faz dessa pessoa?
Ah! Pois é!
Porque, como costuma dizer uma outra pessoa de quem eu gosto mesmo muito:
- Mas você ainda liga a essa gaja?
Tens toda a razão "fofinha". Está na altura de parar de ligar a esta gentinha.
E como diz a minha filha linda:
- O que é que interessa o que essa gente pensa? As pessoas que te conhecem sabem como tu és e a pessoa que és. E isso é que interessa.
No final de tudo isto, eu sou uma pessoa muito feliz.
As pessoas que realmente interessam sabem bem quem eu sou. E isso é que conta.
A capacidade que as pessoas têm para eliminarem da sua memória tudo o que é anterior a determinado acontecimento é uma delas.
A tendência visivel dos seres humanos para passarem uma esponja por cima de tudo o que não lhes convém no momento...
E acima de tudo a rapidez com que ignoram tudo o que viveram, conviveram, disseram e sentiram com alguém numa época da sua vida.
"Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães."
Uma pessoa que me é muito querida diz isto de vez em quando.
Começo a concordar verdadeiramente com esta pessoa.
Podemos conviver diariamente com as pessoas, mostrar o nosso lado A e o B, ou seja o melhor e o pior de nós.
Podemos ser o mais transparentes, correctos, educados, atenciosos, enfim as melhores pessoas do mundo.
Podem ter a certeza que no dia em que alguma coisa correr menos bem, essas pessoas vão ignorar tudo o que de bom aconteceu e tratar-vos como se não soubessem nada sobre vós.
É estranho e infelizmente nada que eu possa explicar melhor.
Convivi durante três anos com alguém que agora me acusa de ser mentirosa, trapaceira, cinica, e nem me lembro o quê mais...
Uma pessoa a quem sempre tratei o melhor possível.
Até quando era necessário chamar a atenção o fazia com luvas de pelica.
Que substituí para que pudesse descansar, melhorar, recompôr-se...
E agora sou acusada de ter mentido durante todo o tempo em que convivemos, de ter encarnado um papel e mostrado uma pessoa que afinal não era eu.
Devo ser uma actriz excelente. Nem sei como ainda não me deram um Óscar!
Sabem que mais?
Fiquei chateada. Com certeza que fiquei chateada!
Mas como diz o povo: "Os cães ladram e a caravana passa!"
Eu sou a caravana. O que é que isto faz dessa pessoa?
Ah! Pois é!
Porque, como costuma dizer uma outra pessoa de quem eu gosto mesmo muito:
- Mas você ainda liga a essa gaja?
Tens toda a razão "fofinha". Está na altura de parar de ligar a esta gentinha.
E como diz a minha filha linda:
- O que é que interessa o que essa gente pensa? As pessoas que te conhecem sabem como tu és e a pessoa que és. E isso é que interessa.
No final de tudo isto, eu sou uma pessoa muito feliz.
As pessoas que realmente interessam sabem bem quem eu sou. E isso é que conta.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
A propósito de tudo! Ou de nada!
Costumo dizer que a melhor coisa que a minha mãe fez por mim foi atirar-me para a frente.
Que é como quem diz, em vez de me dar o peixe ensinou-me a pescá-lo.
Sem grandes confusões nem palmadinhas nas costas, a minha mãe conseguiu que eu me tornasse uma criatura desenrascada e com um excelente jogo de cintura.
Começámos a saga quando entrei para a escola primária.
Nada dessas mariquices de: "Acorda lá meu amor. Tens o pequeno almoço na mesa. Vá lá a mãezinha ajuda-te a vestir".
Comigo foi mais do género: "Tens aqui um despertador. Funciona assim e assado. Tens que ter tempo para te levantares, vestires, comeres e chegares à escola. Hoje ajudo-te. A partir de amanhã estás por tua conta."
Ora aí está.
Sem papas na língua nem travessões no cabelo.
Eu tinha sete anos e aprendi a ser responsável num instantinho.
E nunca adormeci, nem cheguei atrasada à escola, nem coisas do género.
Hoje em dia é que os miúdos chegam atrasados porque os pais apanham trânsito pelo caminho.
E também não pensem que me foram levar à escola no primeiro dia.
Para quê? Eu sabia muito bem onde era a escola.
O facto de ter apenas sete anos era um pormenor.
Todos os dias me diziam que já não tinha idade para brincar com bonecas, por isso porque é que haviam de me levar à escola? Eu já era crescida.
De qualquer maneira, digo-vos já que eu também não ia querer de certeza.
Era assim do mais independente que possam imaginar. E despachada. Ah! Pois era! Despachadissima! Ainda sou.
Às vezes não dá jeito nenhum.
Lá fui eu para a escola.
Duas semanas depois trago um recadinho para casa. A professora queria falar com a minha mãe.
- Quando eu chegar a casa conversamos.
E eu em pânico, a pensar que raio teria feito?!
Não me lembrava assim de nada, mas...
Afinal era só porque me queriam pôr na sala da segunda classe.
Acabei por fazer a escola primária em apenas três anos. Foi quando ganhei a minha fama de génio da família. Era a intelectual da ninhada.
Mais coisa, menos coisa, ainda mantenho uma certa fama. Agora é mais de estranha, mas pronto.
Chegava da escola e fazia o meu almoço. Durante um ano almocei bife com esparguete. Era tudo o que eu sabia fazer.
Ainda hoje adoro bife com esparguete. Sabe-me sempre a "sete anos de idade".
Depois comecei a cozinhar outras coisas: bife de cebolada, batatas fritas e cozidas, arroz branco, enfim...
E aprendi a desenrascar-me na cozinha.
A minha mãe trabalhava de costura para um armazém de revenda. Uma vez por semana ia a Lisboa de autocarro entregar o trabalho da semana.
Quando eu chegava da escola, ela normalmente ainda não tinha chegado.
Aproveitava para me aventurar nas minhas primeiras costuras na máquina dela.
E ponto a ponto, aprendi a costurar.
Estão a ver aquele ditado que diz que a ocasião faz o ladrão?
Eu aproveitava a ocasião para fazer vestidos para as bonecas que tinha escondidas no quarto e com que brincava quando tinha a certeza de não ser apanhada.
Aos poucos e porque a minha mãe tinha sempre mais que fazer do que cuidar de mim, aprendi a cuidar-me sozinha.
Hoje em dia é impensável deixar uma criança de sete anos aproximar-se de um fogão.
Eu própria, só muito tarde deixei as minhas filhas fazerem-no.
E mesmo agora, que a mais velha tem quase 20 anos e a mais nova 17, se estiver ao pé delas na cozinha e as vir com uma faca na mão:
-Tem cuidado com a faca!
- Mãe! A sério?! Já não tenho 5 anos, sabes?
Sei, mas sou exactamente o oposto da minha mãe em matéria coração. Por isso estou sempre com medo que lhes aconteça alguma coisa.
Elas são desenrascadas. Não morrem de fome se ficarem sózinhas. Sabem fazer o básico em casa. Mas eu adoro cuidar delas e dar-lhes mimo, por isso nem chega a ser uma obrigação.
E o mesmo vale para o meu "chatinho". Ele bem pode resmungar à vontade, que eu continuo a ter a mania que sou mãezinha de toda a gente.
Estou-me a afastar do ponto principal.
A educação que me deram.
Se eu tiver que agradecer alguma coisa aos meus pais será isso.
A capacidade de me desenrascar em qualquer situação, de nunca ficar atrapalhada e de saber fazer tudo. Bom, quase tudo. Mas sei fazer furos, mudar lâmpadas, pneus do carro, usar uma chave de fendas ou philips tão bem como qualquer homem, empatar um anzol e fazer pontaria a molas de roupa. E acertar-lhes.
Obrigada aos dois.
Ao deixarem-me crescer sózinha deram-me uma enorme capacidade de enfrentar a vida e de contornar e resolver os problemas que foram e vão surgindo pelo caminho.
Faltou o carinho. Mas essa é outra história.
Que é como quem diz, em vez de me dar o peixe ensinou-me a pescá-lo.
Sem grandes confusões nem palmadinhas nas costas, a minha mãe conseguiu que eu me tornasse uma criatura desenrascada e com um excelente jogo de cintura.
Começámos a saga quando entrei para a escola primária.
Nada dessas mariquices de: "Acorda lá meu amor. Tens o pequeno almoço na mesa. Vá lá a mãezinha ajuda-te a vestir".
Comigo foi mais do género: "Tens aqui um despertador. Funciona assim e assado. Tens que ter tempo para te levantares, vestires, comeres e chegares à escola. Hoje ajudo-te. A partir de amanhã estás por tua conta."
Ora aí está.
Sem papas na língua nem travessões no cabelo.
Eu tinha sete anos e aprendi a ser responsável num instantinho.
E nunca adormeci, nem cheguei atrasada à escola, nem coisas do género.
Hoje em dia é que os miúdos chegam atrasados porque os pais apanham trânsito pelo caminho.
E também não pensem que me foram levar à escola no primeiro dia.
Para quê? Eu sabia muito bem onde era a escola.
O facto de ter apenas sete anos era um pormenor.
Todos os dias me diziam que já não tinha idade para brincar com bonecas, por isso porque é que haviam de me levar à escola? Eu já era crescida.
De qualquer maneira, digo-vos já que eu também não ia querer de certeza.
Era assim do mais independente que possam imaginar. E despachada. Ah! Pois era! Despachadissima! Ainda sou.
Às vezes não dá jeito nenhum.
Lá fui eu para a escola.
Duas semanas depois trago um recadinho para casa. A professora queria falar com a minha mãe.
- Quando eu chegar a casa conversamos.
E eu em pânico, a pensar que raio teria feito?!
Não me lembrava assim de nada, mas...
Afinal era só porque me queriam pôr na sala da segunda classe.
Acabei por fazer a escola primária em apenas três anos. Foi quando ganhei a minha fama de génio da família. Era a intelectual da ninhada.
Mais coisa, menos coisa, ainda mantenho uma certa fama. Agora é mais de estranha, mas pronto.
Chegava da escola e fazia o meu almoço. Durante um ano almocei bife com esparguete. Era tudo o que eu sabia fazer.
Ainda hoje adoro bife com esparguete. Sabe-me sempre a "sete anos de idade".
Depois comecei a cozinhar outras coisas: bife de cebolada, batatas fritas e cozidas, arroz branco, enfim...
E aprendi a desenrascar-me na cozinha.
A minha mãe trabalhava de costura para um armazém de revenda. Uma vez por semana ia a Lisboa de autocarro entregar o trabalho da semana.
Quando eu chegava da escola, ela normalmente ainda não tinha chegado.
Aproveitava para me aventurar nas minhas primeiras costuras na máquina dela.
E ponto a ponto, aprendi a costurar.
Estão a ver aquele ditado que diz que a ocasião faz o ladrão?
Eu aproveitava a ocasião para fazer vestidos para as bonecas que tinha escondidas no quarto e com que brincava quando tinha a certeza de não ser apanhada.
Aos poucos e porque a minha mãe tinha sempre mais que fazer do que cuidar de mim, aprendi a cuidar-me sozinha.
Hoje em dia é impensável deixar uma criança de sete anos aproximar-se de um fogão.
Eu própria, só muito tarde deixei as minhas filhas fazerem-no.
E mesmo agora, que a mais velha tem quase 20 anos e a mais nova 17, se estiver ao pé delas na cozinha e as vir com uma faca na mão:
-Tem cuidado com a faca!
- Mãe! A sério?! Já não tenho 5 anos, sabes?
Sei, mas sou exactamente o oposto da minha mãe em matéria coração. Por isso estou sempre com medo que lhes aconteça alguma coisa.
Elas são desenrascadas. Não morrem de fome se ficarem sózinhas. Sabem fazer o básico em casa. Mas eu adoro cuidar delas e dar-lhes mimo, por isso nem chega a ser uma obrigação.
E o mesmo vale para o meu "chatinho". Ele bem pode resmungar à vontade, que eu continuo a ter a mania que sou mãezinha de toda a gente.
Estou-me a afastar do ponto principal.
A educação que me deram.
Se eu tiver que agradecer alguma coisa aos meus pais será isso.
A capacidade de me desenrascar em qualquer situação, de nunca ficar atrapalhada e de saber fazer tudo. Bom, quase tudo. Mas sei fazer furos, mudar lâmpadas, pneus do carro, usar uma chave de fendas ou philips tão bem como qualquer homem, empatar um anzol e fazer pontaria a molas de roupa. E acertar-lhes.
Obrigada aos dois.
Ao deixarem-me crescer sózinha deram-me uma enorme capacidade de enfrentar a vida e de contornar e resolver os problemas que foram e vão surgindo pelo caminho.
Faltou o carinho. Mas essa é outra história.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
De quando eu era miúda...
Mesmo muito miúda. Tinha para aí uns quatro ou cinco anos.
Fiquei doente. Apanhei uma coisa chamada escarlatina (são assim umas manchas estranhas na pele) e logo depois uma pneumonia.
A escarlatina passou-se. Fiquei de cama. Não me lembro bem, era mínima. Eu, a escarlatina acho que era de tamanho normal.
A pneumonia já é outra história.
Só para que conste eu nunca tinha levado uma injecção. Acho que nem uma vacina. Antigamente também os miúdos não levavam tanta vacina como agora. Confiava-se mais em Deus. E ainda não as tinham inventado todas.
Chamaram um médico lá a casa que decidiu que eu precisava de ir para o hospital urgentemente.
E aqui começaram os sarilhos.
Primeiro porque eu não fazia ideia do que era um hospital, mas não achei piada à ideia.
Segundo porque os meus pais não tinham carro e portanto pediram a um amigo que me levasse.
Esse amigo tinha tido um acidente de automóvel e tinha a cabeça partida.
Eu quando ouvi dizer que ele tinha partido a cabeça, imaginei assim uma coisa tipo as minhas bonecas. A cabeça a despegar-se do corpo e alguém a colá-la.
Por isso quando olhei para ele e lhe vi a cabeça completamente coberta de ligaduras brancas, desatei num berreiro digno de um infantário completo.
Sim que eu era pequenina, mas muito cheia de energia. Mesmo estando doente.
Lá me conseguiram enfiar no carro e calar a boca. Mas posso jurar-vos que durante todo o caminho até ao hospital eu olhava em pânico para a cabeça dele sempre com medo de a ver cair.
Foi a viagem mais comprida da minha vida.
E chegámos ao hospital!
Consulta.
Diagnóstico: Pneumonia.
"Precisa de levar uma injecção de penicilina. Façam-lhe o teste!"
Inje...quê?
Devem estar a brincar comigo.
E a minha mãe:
- Não é nada, é só um teste no braço para ver se és alérgica.
E eu muito desconfiada. Pois, o seguro morreu de velho e passavam a vida a dizer-me que se eu me portasse mal me levavam ao hospital para me darem uma injecção. Logo, não podia ser nada de bom. Certo?
Lá me conseguiram fazer o tal teste. Descobriram logo ali que era o mais alérgica que é possível ser à tal da penicilina. E eu a pensar: "já me safei."
As crianças são mesmo ingénuas.
Substituiram logo aquela porcaria por outra, mas infelizmente também em forma de injecção.
Foi quando começou uma cena linda.
Acreditem ou não, eu que era uma lingrinhas do pior, espernei e contorci-me como uma verdadeira enguia.
Às tantas já estavam a minha mãe, o meu pai, o médico e um enfermeiro a segurar-me e não havia maneira de a outra enfermeira, a da seringa, me conseguir dar a tal injecção.
E vira-se ela:
- Eu, meninas como tu não lhes dou injecções. Mando-as para o jardim e deixo-as lá a morrer.
Tão sensível.
Mas se pensam que ela ficou sem resposta:
- Quero lá saber. Deixe-me ir para o jardim. Mas não levo a injecção e pronto!
O meu pai perdeu a paciência, (que nunca foi muita) e passou à ameaça:
- Mas tu estás quieta e calada ou queres apanhar mesmo doente?
- Não quero saber. Podes-me bater mas eu não levo a injecção. Quero morrer.
Claro que quem é pequeno é sempre vencido.
Quase amordaçada e amarrada lá levei a injecção. Lá me mandaram para casa. Lá voltei ao carro à espera que a cabeça do homem caísse a qualquer momento.
Finalmente chegámos a casa.
E eu com mais um trauma - injecções NUNCA!
Só perdi o medo mais tarde, tinha aí uns 9 anos, com um enfermeiro maravilhoso.
Mas essa é outra história.
Fiquei doente. Apanhei uma coisa chamada escarlatina (são assim umas manchas estranhas na pele) e logo depois uma pneumonia.
A escarlatina passou-se. Fiquei de cama. Não me lembro bem, era mínima. Eu, a escarlatina acho que era de tamanho normal.
A pneumonia já é outra história.
Só para que conste eu nunca tinha levado uma injecção. Acho que nem uma vacina. Antigamente também os miúdos não levavam tanta vacina como agora. Confiava-se mais em Deus. E ainda não as tinham inventado todas.
Chamaram um médico lá a casa que decidiu que eu precisava de ir para o hospital urgentemente.
E aqui começaram os sarilhos.
Primeiro porque eu não fazia ideia do que era um hospital, mas não achei piada à ideia.
Segundo porque os meus pais não tinham carro e portanto pediram a um amigo que me levasse.
Esse amigo tinha tido um acidente de automóvel e tinha a cabeça partida.
Eu quando ouvi dizer que ele tinha partido a cabeça, imaginei assim uma coisa tipo as minhas bonecas. A cabeça a despegar-se do corpo e alguém a colá-la.
Por isso quando olhei para ele e lhe vi a cabeça completamente coberta de ligaduras brancas, desatei num berreiro digno de um infantário completo.
Sim que eu era pequenina, mas muito cheia de energia. Mesmo estando doente.
Lá me conseguiram enfiar no carro e calar a boca. Mas posso jurar-vos que durante todo o caminho até ao hospital eu olhava em pânico para a cabeça dele sempre com medo de a ver cair.
Foi a viagem mais comprida da minha vida.
E chegámos ao hospital!
Consulta.
Diagnóstico: Pneumonia.
"Precisa de levar uma injecção de penicilina. Façam-lhe o teste!"
Inje...quê?
Devem estar a brincar comigo.
E a minha mãe:
- Não é nada, é só um teste no braço para ver se és alérgica.
E eu muito desconfiada. Pois, o seguro morreu de velho e passavam a vida a dizer-me que se eu me portasse mal me levavam ao hospital para me darem uma injecção. Logo, não podia ser nada de bom. Certo?
Lá me conseguiram fazer o tal teste. Descobriram logo ali que era o mais alérgica que é possível ser à tal da penicilina. E eu a pensar: "já me safei."
As crianças são mesmo ingénuas.
Substituiram logo aquela porcaria por outra, mas infelizmente também em forma de injecção.
Foi quando começou uma cena linda.
Acreditem ou não, eu que era uma lingrinhas do pior, espernei e contorci-me como uma verdadeira enguia.
Às tantas já estavam a minha mãe, o meu pai, o médico e um enfermeiro a segurar-me e não havia maneira de a outra enfermeira, a da seringa, me conseguir dar a tal injecção.
E vira-se ela:
- Eu, meninas como tu não lhes dou injecções. Mando-as para o jardim e deixo-as lá a morrer.
Tão sensível.
Mas se pensam que ela ficou sem resposta:
- Quero lá saber. Deixe-me ir para o jardim. Mas não levo a injecção e pronto!
O meu pai perdeu a paciência, (que nunca foi muita) e passou à ameaça:
- Mas tu estás quieta e calada ou queres apanhar mesmo doente?
- Não quero saber. Podes-me bater mas eu não levo a injecção. Quero morrer.
Claro que quem é pequeno é sempre vencido.
Quase amordaçada e amarrada lá levei a injecção. Lá me mandaram para casa. Lá voltei ao carro à espera que a cabeça do homem caísse a qualquer momento.
Finalmente chegámos a casa.
E eu com mais um trauma - injecções NUNCA!
Só perdi o medo mais tarde, tinha aí uns 9 anos, com um enfermeiro maravilhoso.
Mas essa é outra história.
Os peões, as passadeiras e os automobilistas!
Sou uma pessoa de pavio curto.
Que é como quem diz irrito-me com facilidade.
E reclamo. Muito.
Tenho uma amiga que quando anda comigo de carro, costuma rir-se imenso e dizer que as viagens comigo são uma aventura.
Eu até acho que não sou má condutora de todo. Tenho carta há uns 300 anos e até hoje, felizmente, só tive um acidente.
Sou acelera. Tenho assim o pé pesadinho.
Mas só quando a estrada e o carro o permitem. Não sou de andar a acelerar dentro das localidades, por exemplo. Até costumo conduzir bastante devagar pelas ruas da minha cidade. (Foi bonito).
E não deixo o carro estacionado a estorvar ninguém. Sou capaz de andar quilómetros para deixar o carro bem estacionado. E páro sempre nas passadeiras. Mesmo sempre.
Mas não paro fora das passadeiras. E carrego na buzina se for preciso. E tenho a mãozinha pesada. Na buzina, claro.
Perto da minha casa, existem três semáforos em passagens de peões na mesma avenida. Até aqui tudo bem.
Se estão vermelhos, páro. Se não estão, não páro. Até aqui tudo bem, também.
O pior é que me parece que os peões ainda não perceberam que o verde que lhes permite avançar destemidamente para a estrada, tem que ter uma figurinha humana em movimento. Se for um circulo verdinho, quem avança é o carro.
É tão irritante as pessoas abusarem da boa vontade dos outros.
E quando ouvem uma irritada buzinadela ainda olham com ar de desprezo... E alguns até refilam.
Dá uma vontade de sair do carro e desatar à chapada a esta gente. À chapada sim, que eu sou alentejana e trato os bois pelos nomes.
Os peões têm que aprender a respeitar os automobilistas se querem ser respeitados.
E já agora também devia existir um sistema de multas para os senhores peões desrespeitadores:
- Os que atravessam fora das passadeiras, como ao lado do W Shopping, em Santarém;
- Os que atravessam quando o sinal está vermelho para eles, como na Avenida da Rodoviária, em Santarém, nos tais três semáforos; no Cartaxo, na Rua Batalhoz e enfim em muitos outros sítios.
Porque raio de carga de água é que eu hei-de ser multada se não parar num vermelho e um peão não?
Isto é como se diz na minha terra: "Ou há moralidade ou comem todos!"
Porque os senhores peões não podem simplesmente achar que só têm direitos.
Ah, porque estou com pressa.
Pois também eu, ou acham que porque vou de carro não tenho pressa?
Já agora, quando ando a pé tenho o cuidado de não fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim.
Mas um dia destes...
Que é como quem diz irrito-me com facilidade.
E reclamo. Muito.
Tenho uma amiga que quando anda comigo de carro, costuma rir-se imenso e dizer que as viagens comigo são uma aventura.
Eu até acho que não sou má condutora de todo. Tenho carta há uns 300 anos e até hoje, felizmente, só tive um acidente.
Sou acelera. Tenho assim o pé pesadinho.
Mas só quando a estrada e o carro o permitem. Não sou de andar a acelerar dentro das localidades, por exemplo. Até costumo conduzir bastante devagar pelas ruas da minha cidade. (Foi bonito).
E não deixo o carro estacionado a estorvar ninguém. Sou capaz de andar quilómetros para deixar o carro bem estacionado. E páro sempre nas passadeiras. Mesmo sempre.
Mas não paro fora das passadeiras. E carrego na buzina se for preciso. E tenho a mãozinha pesada. Na buzina, claro.
Perto da minha casa, existem três semáforos em passagens de peões na mesma avenida. Até aqui tudo bem.
Se estão vermelhos, páro. Se não estão, não páro. Até aqui tudo bem, também.
O pior é que me parece que os peões ainda não perceberam que o verde que lhes permite avançar destemidamente para a estrada, tem que ter uma figurinha humana em movimento. Se for um circulo verdinho, quem avança é o carro.
É tão irritante as pessoas abusarem da boa vontade dos outros.
E quando ouvem uma irritada buzinadela ainda olham com ar de desprezo... E alguns até refilam.
Dá uma vontade de sair do carro e desatar à chapada a esta gente. À chapada sim, que eu sou alentejana e trato os bois pelos nomes.
Os peões têm que aprender a respeitar os automobilistas se querem ser respeitados.
E já agora também devia existir um sistema de multas para os senhores peões desrespeitadores:
- Os que atravessam fora das passadeiras, como ao lado do W Shopping, em Santarém;
- Os que atravessam quando o sinal está vermelho para eles, como na Avenida da Rodoviária, em Santarém, nos tais três semáforos; no Cartaxo, na Rua Batalhoz e enfim em muitos outros sítios.
Porque raio de carga de água é que eu hei-de ser multada se não parar num vermelho e um peão não?
Isto é como se diz na minha terra: "Ou há moralidade ou comem todos!"
Porque os senhores peões não podem simplesmente achar que só têm direitos.
Ah, porque estou com pressa.
Pois também eu, ou acham que porque vou de carro não tenho pressa?
Já agora, quando ando a pé tenho o cuidado de não fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim.
Mas um dia destes...
sábado, 1 de outubro de 2011
Insultos médicos
Sou daquelas pessoas que adia o mais possível as idas ao médico.
Quando era miúda era assim do tipo "florzinha de estufa" e passava a vida doente. A minha mãe levava-me ao médico sempre que eu espirrava. Era uma desgraça.
Fiquei com anticorpos para o resto da vida.
Aqui há uns meses, no entanto, teve mesmo que ser.
A partir de uma certa idade começa-se a afastar cada vez mais o telemóvel, o livro, as contas do restaurante... Até se descobrir que o tamanho do braço já não chega para a distância a que temos capacidade de leitura.
Por isso lá me decidi a marcar oftalmologista.
Expliquei o caso, ele lá me fez aqueles testes em que voltamos à primária e descobrimos que ainda conhecemos as letras do abecedário.
Achei que até me estava a sair bastante bem e que até estava a sobreviver ao impacto, quando o médico se vira para mim e começa o ataque:
- Que idade tem?
Assim, à bruta. Sem qualquer aviso prévio. Será que nunca lhe disseram que não se pergunta a idade a uma senhora?
Fiquei chocada e por isso:
- 44. Porquê?
Pronto, faltava uns dias para fazer 45, mas tecnicamente ainda eram 44...
- Pois, já devia ter cá vindo para aí à 4 anos.
"DESCULPE?" - isto eu a pensar - "ESTE GAJO ESTÁ-ME A CHAMAR VELHA?"
Respirei fundo e tentei recuperar e controlar os nervos. E ele ataca de novo:
- Ainda por cima você deve ser muito teimosa!
"EU? TEIMOSA?" - eu a pensar.
Pronto, está bem. Sou teimosa. E não é pouco, é mesmo bastante. Mas não conhecia o senhor de lado nenhum e não achei piada a tanto insulto seguido. Desta vez decidi-me pela mentira descarada.
- Não, nem por isso. Porque é que diz isso?
- Porque você vê mesmo muito mal, tem duas dioptrias em cada vista. Mas mesmo assim não falhou uma letra.
"E o que é que isso tem de mal?" - eu a pensar.
- Franze-se toda, faz um esforço descomunal mas não erra nada. Muito teimosa.
"Eu ainda lhe bato!" - eu a ...
- Se calhar é porque não vejo assim tão mal?!
- Vê mal, vê. E para além disso tem um estrabismo divergente alternado.
- Um quê?
E ele repetiu.
Já viram isto? Uma pessoa tem que encaixar no espaço de 5 minutos três insultos: sou velha, teimosa e estrábica.
O que vale é que aos 45 anos temos uma capacidade de encaixe e recuperação muito rápidas. Mas mesmo assim...
Eu nem sequer me sinto velha. Pronto, talvez esteja na categoria dos clássicos, mas daí a ser velha...
E a admiti-lo na frente de um médico que eu não conheço de lado nenhum.
Saí de lá com uns óculos de "velha". Sim porque os velhos é que precisam de óculos para ver ao perto.
Com mais um defeito no currículo - Teimosa. Está bem, eu já sabia, mas o médico não.
E ainda por cima sou estrábica. O que de facto explica muita coisa.
Como nasci loira e por mais que pinte o cabelo, às vezes as origens revelam-se, em vez de chegar a casa e ficar caladinha, não. Contei ao trio de "atrasados" que tenho em casa a conversa do médico. E fui gozada o serão todo.
- Mãe olha para o meu dedo.
E eu olhava, mas quando o dedo chegava perto, um dos olhos fugia sempre. É o tal estrabismo divergente alternado.
- ...inha, olha para mim com os dois olhos, se faz favor.
A sério!? Os de fora eu tenho que me calar, bom mais ou menos, mas os de casa?
Eu que trato deles com tanto carinho. Cambada de ingratos.
Só a gata é que não me gozou. O que se explica, provavelmente, pelo facto de ser surda que nem um portão.
Sim, porque aposto o que quiserem que se ela ouvisse havia de se juntar ao resto do bando.
Depois conto-vos como foi usar óculos pela primeira vez cá em casa.
Quando era miúda era assim do tipo "florzinha de estufa" e passava a vida doente. A minha mãe levava-me ao médico sempre que eu espirrava. Era uma desgraça.
Fiquei com anticorpos para o resto da vida.
Aqui há uns meses, no entanto, teve mesmo que ser.
A partir de uma certa idade começa-se a afastar cada vez mais o telemóvel, o livro, as contas do restaurante... Até se descobrir que o tamanho do braço já não chega para a distância a que temos capacidade de leitura.
Por isso lá me decidi a marcar oftalmologista.
Expliquei o caso, ele lá me fez aqueles testes em que voltamos à primária e descobrimos que ainda conhecemos as letras do abecedário.
Achei que até me estava a sair bastante bem e que até estava a sobreviver ao impacto, quando o médico se vira para mim e começa o ataque:
- Que idade tem?
Assim, à bruta. Sem qualquer aviso prévio. Será que nunca lhe disseram que não se pergunta a idade a uma senhora?
Fiquei chocada e por isso:
- 44. Porquê?
Pronto, faltava uns dias para fazer 45, mas tecnicamente ainda eram 44...
- Pois, já devia ter cá vindo para aí à 4 anos.
"DESCULPE?" - isto eu a pensar - "ESTE GAJO ESTÁ-ME A CHAMAR VELHA?"
Respirei fundo e tentei recuperar e controlar os nervos. E ele ataca de novo:
- Ainda por cima você deve ser muito teimosa!
"EU? TEIMOSA?" - eu a pensar.
Pronto, está bem. Sou teimosa. E não é pouco, é mesmo bastante. Mas não conhecia o senhor de lado nenhum e não achei piada a tanto insulto seguido. Desta vez decidi-me pela mentira descarada.
- Não, nem por isso. Porque é que diz isso?
- Porque você vê mesmo muito mal, tem duas dioptrias em cada vista. Mas mesmo assim não falhou uma letra.
"E o que é que isso tem de mal?" - eu a pensar.
- Franze-se toda, faz um esforço descomunal mas não erra nada. Muito teimosa.
"Eu ainda lhe bato!" - eu a ...
- Se calhar é porque não vejo assim tão mal?!
- Vê mal, vê. E para além disso tem um estrabismo divergente alternado.
- Um quê?
E ele repetiu.
Já viram isto? Uma pessoa tem que encaixar no espaço de 5 minutos três insultos: sou velha, teimosa e estrábica.
O que vale é que aos 45 anos temos uma capacidade de encaixe e recuperação muito rápidas. Mas mesmo assim...
Eu nem sequer me sinto velha. Pronto, talvez esteja na categoria dos clássicos, mas daí a ser velha...
E a admiti-lo na frente de um médico que eu não conheço de lado nenhum.
Saí de lá com uns óculos de "velha". Sim porque os velhos é que precisam de óculos para ver ao perto.
Com mais um defeito no currículo - Teimosa. Está bem, eu já sabia, mas o médico não.
E ainda por cima sou estrábica. O que de facto explica muita coisa.
Como nasci loira e por mais que pinte o cabelo, às vezes as origens revelam-se, em vez de chegar a casa e ficar caladinha, não. Contei ao trio de "atrasados" que tenho em casa a conversa do médico. E fui gozada o serão todo.
- Mãe olha para o meu dedo.
E eu olhava, mas quando o dedo chegava perto, um dos olhos fugia sempre. É o tal estrabismo divergente alternado.
- ...inha, olha para mim com os dois olhos, se faz favor.
A sério!? Os de fora eu tenho que me calar, bom mais ou menos, mas os de casa?
Eu que trato deles com tanto carinho. Cambada de ingratos.
Só a gata é que não me gozou. O que se explica, provavelmente, pelo facto de ser surda que nem um portão.
Sim, porque aposto o que quiserem que se ela ouvisse havia de se juntar ao resto do bando.
Depois conto-vos como foi usar óculos pela primeira vez cá em casa.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Chocolate
Pronto, eu confesso.
Eu não como chocolate.
Não, não estou a fazer dieta. Só não gosto, pronto.
Quando era pequena devia ser a única criança que deixava os chocolates estragarem-se no armário.
Acho o chocolate uma coisa nojenta.
Que me desculpem os chocodependentes.
Claro que quando fui mãe tive que abrir um bocadinho os meus horizontes. Afinal as miúdas não têm culpa de ter uma mãe tão estranha. (Isto é uma definição delas, não minha).
Mas de certa forma até concordo.
E já me chamaram coisas piores.
Esta coisa do chocolate já me trouxe alguns dissabores.
Tenho uma história:
Estão a ver aqueles jantares, mais formais, em que não conhecemos bem os donos da casa? E em que anda um empregado de casaquinho branco e guardanapo no braço, a servir à mesa?
Sim, ainda há pessoas assim, o que é óptimo. Tenho que dizer que eu própria não me importava de ter um cá em casa. Havia de me dar um jeitão.
Num desses jantares, quando começaram a servir a sobremesa, eu ia desmaiando.
"Souflé de chocolate!"
E não havia maneira de escapar. A dona da casa, muito simpática:
- Vai adorar. Tenho a certeza.
E eu a ficar pálida.
E o meu "chatinho" a rir-se do outro lado da mesa. A rir-se discretamente, mas ainda assim... a rir-se. Quando devia estar a sofrer comigo. E a entrar em pânico. Como eu!!
Enfim, lá me apresentaram o souflé.
E ficaram a olhar para mim na expectativa da minha prezada opinião.
E eu absolutamente em pânico.
Tive que ser muito corajosa e levar um pedacinho muito delicado do dito cujo à boca. E rezar.
Ah pois é, quando é preciso até eu...
Enfim, fiz o meu melhor sorriso, (dentro das circunstâncias), lá consegui fazer de conta que estava a apreciar, (sou uma grande actriz), e no fim dizer que estava maravilhoso.
E devia estar.
Nesse dia descobri que os souflés podem ser muito úteis nestas situações. É que bem mexidinhos desfazem-se e desaparecem do pratinho sem deixar marca. Por isso e com recurso a algum jeito lá consegui não engolir nem mais um bocadinho.
Imaginem que era mousse. Estava tramada. Mesmo muito.
Mas isso não acontecia. Sabem porquê?
As pessoas finas só servem mousses assim de manga, ou camarão ou coisas do género. E felizmente eu dessas, até sou rapariga para pedir bis.
Tenho outras histórias de chocolates. Mas ficam para o próximo post.
Bom fim de semana.
Eu não como chocolate.
Não, não estou a fazer dieta. Só não gosto, pronto.
Quando era pequena devia ser a única criança que deixava os chocolates estragarem-se no armário.
Acho o chocolate uma coisa nojenta.
Que me desculpem os chocodependentes.
Claro que quando fui mãe tive que abrir um bocadinho os meus horizontes. Afinal as miúdas não têm culpa de ter uma mãe tão estranha. (Isto é uma definição delas, não minha).
Mas de certa forma até concordo.
E já me chamaram coisas piores.
Esta coisa do chocolate já me trouxe alguns dissabores.
Tenho uma história:
Estão a ver aqueles jantares, mais formais, em que não conhecemos bem os donos da casa? E em que anda um empregado de casaquinho branco e guardanapo no braço, a servir à mesa?
Sim, ainda há pessoas assim, o que é óptimo. Tenho que dizer que eu própria não me importava de ter um cá em casa. Havia de me dar um jeitão.
Num desses jantares, quando começaram a servir a sobremesa, eu ia desmaiando.
"Souflé de chocolate!"
E não havia maneira de escapar. A dona da casa, muito simpática:
- Vai adorar. Tenho a certeza.
E eu a ficar pálida.
E o meu "chatinho" a rir-se do outro lado da mesa. A rir-se discretamente, mas ainda assim... a rir-se. Quando devia estar a sofrer comigo. E a entrar em pânico. Como eu!!
Enfim, lá me apresentaram o souflé.
E ficaram a olhar para mim na expectativa da minha prezada opinião.
E eu absolutamente em pânico.
Tive que ser muito corajosa e levar um pedacinho muito delicado do dito cujo à boca. E rezar.
Ah pois é, quando é preciso até eu...
Enfim, fiz o meu melhor sorriso, (dentro das circunstâncias), lá consegui fazer de conta que estava a apreciar, (sou uma grande actriz), e no fim dizer que estava maravilhoso.
E devia estar.
Nesse dia descobri que os souflés podem ser muito úteis nestas situações. É que bem mexidinhos desfazem-se e desaparecem do pratinho sem deixar marca. Por isso e com recurso a algum jeito lá consegui não engolir nem mais um bocadinho.
Imaginem que era mousse. Estava tramada. Mesmo muito.
Mas isso não acontecia. Sabem porquê?
As pessoas finas só servem mousses assim de manga, ou camarão ou coisas do género. E felizmente eu dessas, até sou rapariga para pedir bis.
Tenho outras histórias de chocolates. Mas ficam para o próximo post.
Bom fim de semana.
Revistas Banquete
A maior parte nem deve saber do que eu estou a falar.
Quando eu era miúda, mas mesmo muito miúda, ainda nem tinham inventado a internet, as receitas vinham em revistas. E nem eram revistas bonitas como as de agora, com fotografias fantásticas, papel de boa qualidade, etc.
Só mais tarde apareceu a Teleculinária que já era assim uma coisa muito sofisticada.
A revista Banquete foi a minha primeira revista de culinária. Era feita sob a direcção culinária da Maria de Lourdes Modesto, que ainda está ligada à cozinha e que tem inúmeros livros publicados e que são óptimos, posso garantir.
O meu pai trabalhava na antiga Cidla (que depois foi uma das empresas que integrou a Galp - bolas sou mesmo antiga), e trazia para casa a Banquete.
Eu sempre fui uma miúda curiosa. Mesmo muito curiosa. E atrevida. E destemida.
Por isso comecei a cozinhar com a Banquete. Afinal eles tinham uma secção que se chamava "Cozinha para Principiantes" e que ensinava o b-a-bá das coisas.
Isto tudo se passou para aí no inicio da década de 70. Imaginem!
Há uns meses atrás fomos, eu o meu "chatinho", a convite de um amigo muito querido, espreitar os livros que o pai lhe havia deixado.
Entre esses livros, todos fantásticos, estavam três volumes encadernados da revista Banquete.
Eu, que sou uma coisinha sensível, juro que fiquei comovida.
As minhas perderam-se nos tempos e sucessivas mudanças de casa. E tenho-me lembrado muitas vezes delas.
E sem esperar voltei a encontrá-las. Foi um momento muito bom para mim.
Ao folheá-las vi as primeiras receitas que me aventurei a fazer. As boas e as más experiências culinárias.
Lembro-me particularmente de um bacalhau com molho branco, que não correu nada bem. Enganei-me na medida do leite para o molho e ficou demasiado liquido. Não houve forno que secasse o bacalhau.
E lembro-me do meu pai (esquisito com a comida como tudo), que, sem querer ferir o meu orgulho de cozinheira, só dizia: "Não está nada mau. Pena não estar mais sequinho!"
Note-se que o meu pai, como eu e toda a familia, é alentejano. Nós ensopamos tudo com pão.
Ainda hoje tenho presente o esforço dele para não me desanimar em relação à cozinha.
E ainda hoje me sinto agradecida por isso.
Entretanto já aprendi a fazer molho branco. Felizmente.
Até à próxima.
Quando eu era miúda, mas mesmo muito miúda, ainda nem tinham inventado a internet, as receitas vinham em revistas. E nem eram revistas bonitas como as de agora, com fotografias fantásticas, papel de boa qualidade, etc.
Só mais tarde apareceu a Teleculinária que já era assim uma coisa muito sofisticada.
A revista Banquete foi a minha primeira revista de culinária. Era feita sob a direcção culinária da Maria de Lourdes Modesto, que ainda está ligada à cozinha e que tem inúmeros livros publicados e que são óptimos, posso garantir.
O meu pai trabalhava na antiga Cidla (que depois foi uma das empresas que integrou a Galp - bolas sou mesmo antiga), e trazia para casa a Banquete.
Eu sempre fui uma miúda curiosa. Mesmo muito curiosa. E atrevida. E destemida.
Por isso comecei a cozinhar com a Banquete. Afinal eles tinham uma secção que se chamava "Cozinha para Principiantes" e que ensinava o b-a-bá das coisas.
Isto tudo se passou para aí no inicio da década de 70. Imaginem!
Há uns meses atrás fomos, eu o meu "chatinho", a convite de um amigo muito querido, espreitar os livros que o pai lhe havia deixado.
Entre esses livros, todos fantásticos, estavam três volumes encadernados da revista Banquete.
Eu, que sou uma coisinha sensível, juro que fiquei comovida.
As minhas perderam-se nos tempos e sucessivas mudanças de casa. E tenho-me lembrado muitas vezes delas.
E sem esperar voltei a encontrá-las. Foi um momento muito bom para mim.
Ao folheá-las vi as primeiras receitas que me aventurei a fazer. As boas e as más experiências culinárias.
Lembro-me particularmente de um bacalhau com molho branco, que não correu nada bem. Enganei-me na medida do leite para o molho e ficou demasiado liquido. Não houve forno que secasse o bacalhau.
E lembro-me do meu pai (esquisito com a comida como tudo), que, sem querer ferir o meu orgulho de cozinheira, só dizia: "Não está nada mau. Pena não estar mais sequinho!"
Note-se que o meu pai, como eu e toda a familia, é alentejano. Nós ensopamos tudo com pão.
Ainda hoje tenho presente o esforço dele para não me desanimar em relação à cozinha.
E ainda hoje me sinto agradecida por isso.
Entretanto já aprendi a fazer molho branco. Felizmente.
Até à próxima.
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Experiências Culinárias
About Me and the World Around
Como toda a gente tenho sempre imensas teorias sobre as mais variadas coisas que vão acontecendo à minha volta.
Às vezes não tenho é com quem as partilhar.
Não comecem já a pensar que sou uma "pessoínha" amarga e solitária.
Sou muito bem resolvida, tenho marido, 2 filhas e uma gata. Esta última é aliás uma peça muito importante e objecto de inúmeras teorias.
O problema é que as minhas teorias às vezes são um bocadinho polémicas e as minhas filhas sairam à mãezinha e contestam tudo.
Por isso pensei: "O melhor é passar as minhas teorias mais em silêncio".
E aqui estou eu.
Divirtam-se e... contestem!!!
Às vezes não tenho é com quem as partilhar.
Não comecem já a pensar que sou uma "pessoínha" amarga e solitária.
Sou muito bem resolvida, tenho marido, 2 filhas e uma gata. Esta última é aliás uma peça muito importante e objecto de inúmeras teorias.
O problema é que as minhas teorias às vezes são um bocadinho polémicas e as minhas filhas sairam à mãezinha e contestam tudo.
Por isso pensei: "O melhor é passar as minhas teorias mais em silêncio".
E aqui estou eu.
Divirtam-se e... contestem!!!
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