quinta-feira, 14 de junho de 2012

Mais uma daquelas coisas...

... que me fazem muita confusão.
Agora parece moda os pais que perdem os filhos escreverem livros sobre o assunto, em que expõem, com o pretexto de ajudarem pessoas em igual situação, a sua dor, a forma como lidam com ela e como conseguem sobreviver, porque depois de perder um filho, penso que só se consiga sobreviver, não viver.
Não consigo sequer chegar perto de imaginar o que deve sentir um pai ou uma mãe quando perde um filho, e acho que ninguém, a não ser que tenha passado por isso o consegue imaginar, mas mesmo assim faz-me alguma confusão.
"Quando perdemos o marido ou a mulher ficamos viúvos, perdemos o pai ou a mãe, ficamos orfãos, quando perdemos um filho não ficamos nada... Não existe uma palavra para uma mãe ou para um pai que perde um filho!"
Esta frase foi-me dita por uma grande senhora, de quem eu gosto muito, que perdeu um filho e que como tantas outras mães teve de aprender a viver com essa dor e essa perda diariamente.
Percebi perfeitamente a sensação de vazio que deve ser dentro do coração de uma mãe, é que é tão contranatura que nem existe uma palavra no dicionário. É uma coisa que não devia acontecer, até porque acredito que qualquer pai ou mãe a quem fosse dada escolha preferia tomar o lugar do filho.
Por isso não percebo que pessoas conhecidas, ou anónimas, que perderam filhos se predisponham a falar publicamente sobre isso e a partilhar com o mundo uma dor que, para mim, devia permanecer no íntimo de quem a sente.
Mas, lá está, somos todos diferentes e ainda bem que assim é.
Entre esta semana e a próxima estarão à venda dois livros, que vão estar incluídos na categoria de autoajuda, de um pai e de uma mãe que perderam os respetivos filhos.
O primeiro "Desistir Não é Opção" é escrito por Paulo Sousa Costa, que perdeu o filho Paulinho, de apenas seis anos, vítima de uma leucemia galopante e que está prestes a ser novamente pai de uma menina.
Ainda não li o livro, nem sei se terei coragem para tal, até porque já me fartei de chorar só a ler as páginas de pré-publicação que saíram na imprensa. Fiquei chocada com o que li, são frases avassaladoras e dolorosas de um pai que sentiu o vazio deixado pelo filho, que não sabe como vai fazer para amar a bebé que nascerá em breve (porque nenhum filho pode substituir o outro), que pede desculpa à companheira por não conseguir voltar a ser a pessoa que era.
O segundo "Nunca Te Esquecerei", estará à venda na próxima semana e é escrito por Filomena Vieira, a mãe do cantor Angélico, que morreu no ano passado vítima de um brutal acidente de viação.
Ainda não li nada deste segundo livro.
A atitude dos dois pais chocou-me de alguma forma, pois desde a morte dos filhos sempre se mostraram recatados nas emoções, especialmente a mãe de Angélico.
Não parece coerente com a postura dela que agora resolva de repente expôr-se aos olhos e corações do mundo, ainda não teve sequer coragem para regressar ao trabalho...
Como disse no início as pessoas são todas diferentes e ainda bem que o são. Por isso, por serem diferentes, têm formas diferentes de encarar a dor e de viver com ela, de fazer a catarse que lhes permita seguir em frente, e por isso, talvez encontrem algum conforto no facto de pensarem que podem ajudar outros pais na mesma situação a perceber que não estão sozinhos, que a sua dor pode ser entendida por pessoas que passam pela mesma experiência, por pessoas que também deixaram de ter um adjetivo que os defina.
Se bem que o adjetivo deve continuar a ser pai ou mãe, porque, e apesar de o filho deixar de estar presente fisicamente, pai e mãe são "profissões" para a vida. Uma vez mãe, para sempre mãe, é daquelas coisas que nunca se deixam de ser. É o tal emprego para toda a vida.
Mas deve ser tão difícil, deve doer de uma maneira...
Quando um dos nossos filhos está doente, quebra um osso, arranca o dente do siso, tem uma nota menos boa e sofre por isso, a mãe sofre sempre em dobro. Qualquer dor dos nossos filhos nos dói em dobro, perder um...
É o pior dos pesadelos transformado em realidade. O confronto deve ser... brutal, violento, devastador, esgotante, não sei, felizmente não consigo encontrar as palavras.
Nem gosto muito de pensar nestas coisas, embora já tenha sido confrontada com pessoas próximas que passaram por esta situação e que me deixou sempre assustada.
O vazio de expressão que vi nos olhos das mães que conheço que perderam filhos, a violência e intensidade da dor que se podia ler nos rostos, na postura, sempre me deixou sem palavras, sem reação, porque o que é que se pode dizer para consolar alguém que perdeu uma parte de si?
"Sinto muito. Lamento a sua perda". Não me parece que sirva para a ocasião, na verdade não me parece que existam palavras que sirvam para a ocasião. Espero muito sinceramente que os abraços consigam transmitir alguma coisa, porque são o meu recurso nestas situações em que não consigo pensar em nada para dizer, logo eu que tenho sempre tanta coisa para dizer...
As palavras, tantas vezes grandes, são sempre pequenas perante um pai ou uma mãe que perde um filho. Acho que o próprio mundo se torna demasiado pequeno para essa dor.
E que me desculpem os pais e as mães que perderam filhos e lerem isto... Por não conseguir encontrar as palavras para descrever o que gostava de lhes dizer!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quantos são precisos...

Para pintar uma passadeira?
Descobri agora mesmo que são quatro. Na minha rua chegaram quatro senhores com coletes que dizem "Trânsito" e estão a preparar-se para pintar a passadeira da esquina. Descobri que são precisas quatro pessoas para pintar uma passadeira.
Um deles coloca os pinos a delimitar a zona, o segundo tem a responsabilidade da colocação dos sinais de trânsito junto aos pinos, o terceiro está a varrer o pó da passadeira e o quarto, que por enquanto não está a fazer nada suponho que seja o pintor, até porque é o único que tem uma t-shirt branca vestida e não tem colete.
É giro, não é?
Especialmente para mim que sou alentejana e passei metade da minha vida a ouvir coisas do género: quantos alentejanos são precisos para mudar uma lâmpada?; quantos alentejanos são precisos para...?
Afinal descubro que para pintar uma passadeira são precisos quatro ribatejanos...
Esta conversa sobre os alentejanos lembrou-me um episódio memorável em rádio, mais concretamente na Renascença com o atual jurado de A Tua Cara Não Me É Estranha, António Sala.
O Sala fazia um programa nas manhãs da Renascença, que se chamava "Despertar" e todos os dias contava pelo menos uma anedota de alentejanos e de repente alguns alentejanos começaram a ficar mais ou menos chateados com a coisa. É que ele conseguia ser muito irritante. Tenho que reconhecer que o humor dele melhorou bastante desde então.
Bom, voltando ao "Despertar", um dia de manhã, o Sala lançou um repto: "Sabem porque é que os alentejanos têm duas camas no quarto?"
Claro que a ideia dele era dizer que era paquando se levantam voltarem a deitar-se para descansar, mas o tiro saiu-lhe completamente pela culatra.
Um ouvinte alentejano que já devia estar farto dele e das piadas secas sobre a raça, ligou para o programa em direto  e deu a resposta: "Uma das camas é para dormirem com a mulher deles, a outra é para dormirem com a sua..."
............................................
O Sala perdeu completamente o pio, a emissão ficou em silêncio, não me lembro bem, mas seguramente um minuto, e que eu me lembre o Sala parou com as piadas alentejanas, porque ficou a saber que de vez em quando existe um alentejano menos preguiçoso que resolve dar uma lição a estes lisboetas armados em espertos.
Isto não tem nada a ver com a passadeira da minha rua, claro, mas lembrei-me.
E entretanto espreitei pela janela da sala e descobri que chegou mais um, que pelos vistos é o chefe. Está parado a dar ordens ao da t-shirt branca que está a colocar a fita no chão.
Por este andar daqui a bocadinho está todo o departamento de trânsito da cidade concentrado em frente ao meu prédio. Já estou a ver o engarrafamento nos passeios...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu no supermercado

Hoje pensei assim cá para comigo: 'vou buscar um peixe para grelhar para o almoço', e por isso aí por volta do meio dia e qualquer coisa, saí de casa e fui ao supermercado que fica aqui perto, tirei uma senhazinha e esperei pela minha vez.
Até aqui tudo bem. Ao meu lado estava uma senhora de idade, que daqui em diante vou passar a designar por velha, que pelos vistos nunca tinha ido ao supermercado e não sabe como funciona o sistema de senhas.
A senhora do peixe diz: '9', e eu 'sou eu', e a velha:' ai desculpe, mas eu já estava aqui antes de VOCÊ aqui chegar'.
E eu: ' e onde está a sua senha?'
E ela: 'Não tenho. Nem sabia que era preciso!'
E eu: 'Pois não tenho nada a ver com isso, eu sou o nove e quero carapaus, se faz favor'
E a velha: ' Que falta de respeito. Eu já tenho idade e estou cheia de pressa??!!! Não custava nada deixar-me aviar primeiro'
E eu: Pois eu também já tenho a minha certa idade e a coisa que mais me irrita é aturar madurezas de gente que acha que a idade lhes dá estatuto para poderem fazer tudo o que querem. São três carapaus destes grandes se faz favor e uma pescada para cozer.
E a velha: Hoje em dia ninguém respeita os mais velhos. Esta juventude (eu tenho 46 anos, por amor de Deus, não tenho 16) não quer saber dos velhos, não são capazes de facilitar um bocadinho...
E eu: Olhe minha senhora, cada um tem os seus problemas, a senhora tem a idade e tem pressa, eu tenho a minha própria idade e de certeza muito mais pressa que a senhora. E já agora se não se importa pode parar com a conversa porque isso não vai levá-la a lado nenhum e eu não sou pessoa de me comover e digo-lhe já de caras que não gosto de velhos. Especialmente quando são abusadores como a senhora e fazem de conta que não sabem como funciona o supermercado e as senhas de vez...
E a velha: Eu juro que não sabia...
E eu, já irritada e capaz de a estrafegar: Que estranho, tendo em conta que eu a vejo por aqui de cada vez que cá venho e que já não é a primeira vez que tenta passar à minha frente. Olhe a última foi na caixa. Por isso e para a senhora não se humilhar mais pode ficar caladinha que fica muito mais bonita.
E a velha, já aos gritos: Que falta de respeito!!!
E eu: Se eu fosse a si tirava uma senhazinha para o peixe que entretanto já há mais umas 3 ou 4 pessoas à sua frente!
E entretanto o meu peixinho estava pronto e virei-lhe as costinhas e fui-me embora e achei na minha inocência que o assunto morria ali.
Pois acreditem que a senhora de idade, que estava com tanta pressa, andou atrás de mim pelo supermercado a insultar-me, até que eu perdi a paciência, fiz sinal ao segurança, que é um senhor já de uma certa idade, amoroso, e disse-lhe simplesmente:
- Bom dia. Peço desculpa por estar a incomodá-lo, mas esta senhora está a insultar-me e a incomodar-me. Não se importa?
E a senhora de idade, que pelos vistos já tem currículo no supermercado saiu sem peixe e sem almoço.
Bem feita.
A sério que esta gente me perturba. Mas que raio de sina que eu tenho, que estas v... vêm sempre implicar comigo, que tenho pouca paciência para elas, não gosto delas, nem do cheiro a naftalina e tenho um pavio curtíssimo.
Para a próxima vez já tomei uma decisão, vou presa mas aperto o pescoço à velha!
Está dito!
Espero que me deixem usar a internet da prisão para eu depois comunicar em que estabelecimento prisional estou.
Eu não me meto com ninguém e respeito todas as pessoas até me pisarem os calos (que por acaso nem tenho), mas a falta de civismo das pessoas deixa-me completamente possuída e à beira da loucura. Acho que vou passar a levar o ferro de golfe para o supermercado!
Isso é que era!

E voltamos à seleção!

Depois do meu post de ontem hoje de manhã tive mais uma linda surpresa no que toca ao alojamento dos "vinte e três magníficos", (só a expressão já me dá ânsias, que na minha terra é o equivalente a comiçhões).
Numa revista que vi hoje de manhã está a lista das seleções mais gastadoras. Adivinhem lá quem são os primeiros? Os Tugas, claro, com os tais 33 mil euros diários. Somos seguidos pela Rússia, 30 mil euros diários, Polónia, 24 mil, Irlanda, 23 mil e Alemanha 22 mil.
Eu não quero ser intriguista, mas a verdade é que a Rússia podia de certeza absoluta pagar com muito mais facilidade um hotel mais caro, mas pronto.
Imaginem lá que o Europeu dura um mês - vamos gastar para aí um milhão de euros com estes fulanos - é inadmissível. A mim ainda nem me reembolsaram o IRS.
Já era de esperar, nem posso dizer que fiquei surpreendida. Os portugueses nestas coisas é sempre tudo em grande, que é para os desgostos serem ainda maiores, quando as coisas correm mal, que como já estamos habituados é o que acontece normalmente.
E só para que fique esclarecido eu até espero que Portugal vá, como é que se diz, longe no Europeu, mas são motivos mais pessoais que não vou revelar aqui... Se eu fosse figura pública, amanhã já havia manchetes escritas "Fulana de tal tem um caso com um jogador da seleçao", o que era no mínimo hilariante, por isso ainda bem que não sou.
Tive mais uma surpresa matinal, ou melhor duas.
A primeira é que finalmente descobri que tenho uma coisa em comum com Cavaco Silva, não somos fãs de alemães. O Senhor Presidente da República, que para mim já passou o prazo de validade há muito tempo, pediu aos jogadores para "neste momento difícil que Portugal atravessa", darem o seu melhor na sua prestação ao longo do Europeu e, esta é a parte que temos em comum, muito especialmente no jogo contra a Alemanha.
Pois, percebe-se, ele quer vingar-se do estrago que tia Merkel tem feito na moral lusitana. Acho muito bem. Podemos perder a porcaria do mundial, perdão, Europeu, logo na primeira etapa, duvido que isto se diga assim, mas pelo menos vejam lá se nos dão o gostinho de ganharem aos alemães, de termos uma hipótese, umazinha que seja, de humilhar a tia Merkel e fazê-la meter a viola no saco. Ah ganda Cavaco, é assim mesmo, finalmente descobrimos em ti vestígios do gene humano que já duvidávamos que existisse. Sim, porque aquele homem parece um bocadinho alien, certo? Estou sempre à espera de o ver apontar para o céu e dizer: HOME!!!
Depois tive outra surpresa, que não foi propriamente uma surpresa, mas mais uma constatação, o Ronaldo é um grunho do pior.
Então o cachopo chega-se ao pé do Senhor Presidente da República Portuguesa (isto é escrito em tom irónico, não sei se já tinham percebido) e dá-lhe a bendita camisola das quinas e diz: "Gostávamos de convidar você a assistir a um jogo ao vivo". Mas será que ninguém foi capaz de lhe escrever duas frases e obrigá-lo a decorá-las e treinar com ele até à exaustão e poupá-lo a este tipo de figura?
Caramba, o rapaz tem dinheiro, uma namorada gira, um filho de mãe icógnita, é filho da Dona Dolores (cá está outra vez o tom irónico) e não tem ninguém que seja capaz de olhar por ele? A Dona Dolores nestas coisas devia estar mais atenta...
Quer dizer, toda a gente de vez em quando dá as suas calinadas na língua portuguesa, agora um bocadinho mais brasileira que antes, mas na frente do Senhor Presidente da República (agora deram por isso?)?
Coitado, até tive pena dele, não que ele deva ter reparado na porcaria que disse, mas porque de certeza que no Youtube (se aconteceu está no Youtube) o vídeo vai de certeza ter muitas visualizações - o dia em que o ronaldo mostrou ao mundo que é um ignorante, apesar dos muitos milhões que ganha.
E note-se que eu não sou daquelas pessoas cínicas e muito mentirosas que dizem que não têm inveja do Ronaldo. Eu tenho e não é pouca. Não lhe invejo a Dona Dolores, nem as manas Aveiro, o cunhado, o filho de mãe icógnita, os guarda costas, o namorado da mãe, enfim, nada  disso. O que eu invejo, mesmo a sério, é a continha bancária do cachopo, que me dava um jeito bestial.
Já me estou a ver com um cartãozinho de crédito a jeito a fazer tanta coisinha agradável. Pronto, eu sei, é mesmo pensamento de mulher. E então? Eu também nunca disse que era homem, pois não? Nem nunca fui daquelas que apregoam o feminismo e que acham que as mulheres deviam deixar de ser quem são. Tenham lá santa paciência. Eu gosto de ser mulher, gosto de ir às compras, gosto que me abram a portinha do carro e as portinhas por onde tenho de entrar, gosto de ser mimada e não tenho vergonha disso.
E também gosto de cozinhar, de fazer ponto de cruz, de fazer o jantar e isso não combina nada com a emancipação feminina.
E gosto de trabalhar e de manter um bocadinho de independência mas ao mesmo tempo de me sentir segura numa relação.
Pronto está dito!
Afastei-me do objetivo deste post que era o regresso à seleção. Vou continuar a acompanhar a prestação dos "vinte e três magníficos" (lá está o tom) e vou dando conta das minhas impressões sobre o assunto.
Como diriam os brasileiros: "Me aguardem!"

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Turquia 3 - Portugal 1

Esta coisa do futebol é das que mais confusões me faz, especialmente quando começo a pensar no dinheiro que gastamos com estes marmelos.
Então a seleção vai custar qualquer coisa como 33 mil euros por dia, em hotel, massagens, comidas, transportes e sabe-se lá mais o quê...
Então os meninos estiveram em Óbidos muito bem instaladinhos, a viver à grande e à portuguesa (sim que já nem os franceses se permitem a estas mordomias) e depois num joguinho da treta contra a Turquia não conseguem mais do que um miserável 3-1?
Que me desculpem os aficionados do desporto-rei, como lhe chamam, mas para mim esta treta da seleção é assim uma coisa ao nível dos funcionários públicos - fazem tanta falta como a peste negra.
Senão vejam: a seleção está cheia de craques, Ronaldos e afins que jogam o ano todo nos clubes que lhes pagam uma fortuna para eles jogarem a sério e agora que acabaram as épocas eles querem o quê? Férias, claro, como qualquer pessoa normal e eu até acredito que lá bem no fundo, no fundo, eles sejam pessoas normais.
Vocês acham que o Ronaldo por muito que goste de andar aos pontapés à bola não preferia agora estar num iate de luxo, num sitio paradisiaco agarradinho à russa  e a dourar ao sol, em vez de ter que vestir um equipamento (feio, por sinal) e andar a cansar-se atrás da bola em nome do país?
Ponham-se no lugar dele e vejam lá o que preferiam? Francamente acho que até eu me agarrava à russa...
E os outros vão pelo mesmo caminho, todos eles têm namoradas, mulheres, etcs., com quem preferiam estar em vez de andarem a apanhar calor nos relvados.
Eu até sou bastante suspeita para me pronunciar sobre este assunto porque não gosto de futebol e portanto por mim, seja Portugal ou seja lá o que for não me parece que seja um assunto de interesse nacional, mas pronto...
Ainda há bocado ouvi na TVI a Fátima Lopes, a apresentadora, a dizer que o futebol pode ajudar a elevar a moral do país, como, segundo ela, aconteceu em 2004 em que os portugueses se uniram todos em nome do orgulho e do amor à bandeira.
Eh pá, fiquei um bocadinho ofendida. Queres ver que a outra acha que quem não gosta de futebol e não fica de alma cheia por ver o jogadores da seleção não tem amor à pátria nem à bandeira?
E mais, eleva a moral do país ou distrai a atenção das pessoas dos verdadeiros problemas?
Quem não se lembra dos famosos três F's de Salazar: "Fado, Fátima e Futebol"? a maneira mais fácil de manter o rebanho ordeiro e tranquilo enquanto ele fazia o que queria, sendo que visto a esta distância nessa altura vivia-se mal, mas o país tinha dinheiro, construiam-se escolas e hospitais e o pão era considerado um bem de primeira necessidade. Já hoje...
Pois eu, que por enquanto ainda não sei o que fiz ao meu filtro, acho que o futebol é uma seca e tenho a certeza de que já foi responsável por muitos divórcios. Mas quem é que raio tem pachorra para aturar jogos diários, às horas mais inacreditáveis e ter que levar com o barulho dos adeptos, dos jogadores, que ainda por cima cospem para o chão e sim já sei que parece que lhes faz falta, mas não deixa de ser nojento por isso e depois com o orgulho nacional de rastos quando eles voltarem todos de rabinho entre as pernas porque coitadinhos tiveram azar, o árbitro estava do lado dos outros, o não sei quantos estava desconcentrado porque a namorada estava a pressioná-lo para ir de férias, marcar a data do casamento...
Lembro-me de um Euro ou de um Mundial qualquer, acho que no México, mas não posso jurar, em que os jogadores portugueses andavam literalmente a chutar as chuteiras, passe o pleonasmo, no relvado. Isto depois de termos deslocado cozinheiros e ajudantes de cozinha, médicos e enfermeiros, provavelmente psicólogos e sabe Deus mais o quê para acompanhar a equipa das quinas.
Espero, muito sinceramente que o dinheiro destas tretas não venha dos nossos impostos, mas quase de certeza que vem, porque eu não me apetece pagar impostos para ver as pernas dos Ronaldos e amigos, que ainda por cima não são grande coisa. Se eu tiver de pagar impostos para ver as pernas de alguém, e não me parece que eu pagasse para isso, já agora dêem-me o direito de escolher as pernas que quero ver.
Resumindo: ainda a procissão vai no adro e não começaram os jogos a sério e para além de termos sido apurados à tangente para o tal do Euro já andamos a perder jogos. Com a Turquia. Por 3-1.
Eu encerro aqui a minha argumentação.
É que com esta crise o futebol já nem para o negócio da imperial e do tremoço dá jeito...
E mesmo que desse, eu já nem vendo imperial, nem tremoço...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Da infância...

A minha infância está intrinsecamente ligada ao Alentejo. Filha única vivia completamente isolada do mundo e só no Verão na casa do meu avô soltava a franga. E de que maneira.
Eu, o meu primo Z. e a irmã dele, a P., foram o que de mais próximo tive de dois irmãos, ou pelo menos era assim que olhava para eles.
Os três éramos inseparáveis nas brincadeiras e muito especialmente nas asneiras. Segundo o meu pai, só tinhamos ideias de gente parva. Ah pois tínhamos e muitas. Éramos garotos, adorávamos andar à solta e o Verão era o tempo em que tudo era permitido.
Ou pelo menos na casa do meu avô tudo era permitido, porque ele achava que "os gaiatos têm que se entreter" e portanto nós aproveitávamos e entretíamo-nos.
Na casa do avô existia uma burra que o meu primo muito simpaticamente batizou de Esquisita, em homenagem a mim.
Sempre tive uma certa fama...
Na verdade não sou esquisita, talvez especial, mas o meu primo referia-se mais especificamente à comida.
Analisando as coisas do ponto de vista de uma pessoa de 45 anos, quase 46, eu diria que o esquisito era ele, que só gostava de batatas fritas, ovos estrelados e salsichas. Já eu só não como feijão frade, caril e chocolate.
Na casa do avô as batatas eram fritas em azeite e o azeite da altura era pesado, verde, grosso, em resumo nojento. As batatas era intragáveis, pelo menos para mim, que ainda por cima sou um bocado alérgica às gorduras ainda hoje.
A minha alcunha veio daí, eu era esquisita porque não gostava de batatas fritas em azeite, mas em contrapartida comia peixe grelhado ou cozido, legumes, sopa, enfim... já o meu primo nem por isso. E não sei se agora come. E já tem 50 anos.
Estão a ver o género?
Voltando à burra... A Esquisita era um animal muito manso, cinzento clarinho, ou pelo menos é assim que me lembro dela. Quando sentíamos o meu avô chegar íamos a correr para fazer o caminho até casa montados na Esquisita.
Era o nosso meio de transporte até à Ribeira de S. João ou à outra de que não me lembro o nome. O meu avô punha-nos lá em cima e lá íamos a balançar para um dia de pesca e de aventura. Perdi o conto às nodoas negras e às esfoladelas que fiz nos canchos (são pedras que nascem do chão e não sei explicar melhor), que estavam escorregadias e que pregaram comigo na água vezes sem conta.
Na caso do avô não havia luz e por isso depois de jantar tínhamos que puxar pela imaginação para passar o serão.
Eu e os meus primos ensaiávamos teatros, concertos... Eu canto tão mal, que até tenho pena dos meus tios que tiveram de me aturar, mas também era a única que sabia as letras. Ainda me lembro de L'oiseaux et l'enfant, acho que é assim que se escreve, de Marie Myriam, que ganhou um festival da eurovisão e que eu sabia na ponta da língua, entre muitas outras.
Vestia o vestido de noiva da minha mãe, que andava por lá a rebolar, o meu primo fazia de conta que tocava viola, a irmã dele acompanhava no coro e pronto, tínhamos a família entretida durante o serão.
E sabem o melhor? Éramos pagos. O meu avô dava o exemplo e puxava da carteira para dar tipo 5 escudos a cada um, devem ser para aí dois cêntimos e claro, o resto da família tinha que participar.
No fim do verão se não tívessemos o péssimo hábito de ir à aldeia à tasca do Sr. João, no Castelo comprar rebuçados de osso  estávamos ricos. Nunca ficámos, claro. Os gelados, os rebuçados, as batatas fritas e outros afins eram demasiado apelativos para nós.
Havia tão poucos carros que mesmo miúdos escapavamos sozinhos para a aldeia para ir às compras. Sem medos, toda a gente sabia que éramos netos do Ti Zé Álvaro e pelo menos os meus primos que passavam lá mais tempo conheciam toda a gente. Eu era a esquisita que ia de Lisboa. Enfim...
Das primeiras recordações que tenho da casa do meu avô está a morte da minha avó Cecília. Eu tinha quatro anos e lembro-me que fui com a minha mãe e o meu padrinho de comboio e ainda chegámos a tempo de ver a avó Cecília viva.
A avó estava paraplégica já há muito tempo, nunca consegui perceber porquê, mas é uma doença que tem a ver com o reumático. Costumavam sentar-me no colo dela e ela contava-me histórias. Era muito doce a avó Cecília. Dizem que herdei dela os olhos verdes, as mãos compridas e fininhas e as unhas redondas e bonitas. São três coisas de que tenho muito orgulho, tal como a bolinha no nariz que herdei do avó Álvaro. É uma bolinha muito especial, afinal o meu avô tinha uma igual.
Quando chegámos a avó pediu para falar comigo. Queria pedir-me para tomar conta do meu padrinho que andava sempre todo partido porque se metia nas garraiadas e já tinha idade para ter juízo.
Ainda me lembro: Filha, toma conta do teu padrinho, não o deixes mais meter-se nas touradas. Não te esqueças.
Não me esqueci avó e tomei conta, ele nunca mais entrou numa tourada, excepto para ajudar um amigo, colhido por um touro. Eu prometi e cumpri. Era incapaz de me esquecer do teu pedido, como fui incapaz de me esquecer de ti. E acredites ou não tenho saudades tuas avó. Fizeste-me a mim e a todos na família muita falta. Especialmente ao avô, mas espero que agora estejam de novo juntos.
O avô morreu quando eu tinha doze anos, por altura da Páscoa. Lembro-me de um dia muito chuvoso em que apareceu uma prima da minha mãe para nos dar a notícia. Nessa altura quase ninguém tinha telefone. Fomos de carro para o Alentejo. Chorei o caminho todo e não consegui ver o avô no caixão. Prefiro lembrá-lo sentado na pedra ao lado da casa a enrolar o seu cigarrinho e com a boina de borla pendurada.
O meu avô Zé Álvaro, que na verdade se chamava Zé António era um homem maravilhoso e lindo.
tinha uns olhos azuis, era alto e elegante e até ao fim usou sempre os seus fatinhos de coletinho e jaquetinha, muitos de seborreco, que lhe ficavam tão bem.
Quando chegávamos cá abaixo à fonte Pales olhava para cima e invariavelmente o meu avô lá estava, sentado na sua pedrinha a enrolar o seu cigarrinho.
A sua morte foi prematura e deixou um buraco gigante na família. Do meu ponto de vista nunca mais recuperámos. Eu pelo menos não recuperei.
Tinha uma verdadeira adoração pelo meu avô e ainda tenho. A saudade que a morte dele me deixou acompanhou-me desde então e já faz parte de mim. Acho que vou morrer com ela.
Só voltei a casa do meu avô depois da morte dele há dois anos, no Verão.
Os meus tios organizaram um almoço e resolveram fazê-lo lá.
Acreditem ou não estive longos minutos no carro a soluçar e a tremer sem conseguir sair. Foi horrível.
Quando finalmente consegui sair do carro e entrei em casa dei de caras com uma fotografia do meu avô e da minha avó na parede em frente à porta e desabei completamente. Nunca mais me apanham. Aquela casa era o meu avô. Sem ele prefiro ignorá-la. E eu nasci lá.
Não sou pessoa de ir ao cemitério e francamente nem sei em que data ele morreu. Nem me interessa. Lembro-me dele todos os dias, tenho saudades dele todos os dias mas de alguma forma sinto que o meu avô não me abandonou. Eu sei que é estranho, mas às vezes sinto como que uma carícia no rosto e não me perguntem porquê mas quero acreditar que seja o avô Álvaro.
Era um homem bom, muito bom, amigo do seu amigo, dos filhos, dos netos e de um copinho...
"Filhas, já venho bêbado", dizia às veze ao fim da tarde quando chegava a casa. E era dia de histórias e canções. O avô contava coisas da sua infância e cantáva-nos canções do tempo dele. "Sete peixinhos, sete peixinhos, fui eu que os vi a nadar...".
Obrigada avô, por teres feito parte tão integrante e forte da minha vida. Por teres sido e continuares a ser um modelo.
Amo-te muito!

A barragem da minha terra


Com a devida vénia a uma conterrânea "roubei" esta foto do seu Facebook.
Esta é uma foto da Barragem de Póvoa e Meadas, um sítio que me traz à memória recordações que nunca mais acabam. Recordações boas, muito boas!
Comecei a ir à barragem desde miúda. Sempre que ia passar os Verões ao Alentejo, e ia sempre, a barragem fazia parte da nossa vida.
Passava o tempo na casa do meu avô, um monte alentejano no verdadeiro sentido da palavra, onde aliás nasci, isolado de tudo e de todos, onde eu e os meus primos corríamos à vontade, esfolávamos os joelhos e fazíamos mil e uma asneiras completamente defendidos pelo meu avô que nos deixava fazer tudo.
De vez em quando havia um tio que dizia, vamos à barragem.
Epá, era num instante que arranjávamos toalhas e vestíamos fatos de banho. Excitadíssimos, claro. O meu primo é cinco anos mais velho e a irmã dele um ano mais nova do que eu e os três passámos muitos e bons momentos na casa do meu avô.
Regressando à barragem... (Começo a achar que as minhas filhas têm razão, eu disperso-me muito).
Ir para a barragem significava tudo o que as crianças gostam, água, mergulhos (excepto para mim, claro), sol e um bronzeado do tipo "cor dos torresmos" no fim do dia.
Mais tarde, já adolescente, para além do Verão, ia para a barragem com os meus amigos na segunda feira de Páscoa.
Íamos todos em grupo, a pé, com cestos e cestos de comida e bebida, equipados a rigor para um piquenique "lancheiro" em grande.
Belos dias que passei por lá. Apanhávamos amoras mansas, cantávamos, tomávamos banho quando o tempo permitia e voltávamos ao fim do dia cansados, meio bebidos  e muito, muito sujos.
Também no Verão comecei a ir com amigas durante o dia, ver os moços, claro, mostrar as curvas em biquini e fazer aquelas coisas que as adolescentes fazem quando estão juntas e que na altura são o melhor do mundo - rir, conversar, viver...
A barragem também era sítio de paragem quando se saía do Pedro V, em Castelo de Vide, que agora é só restaurante, mas no meu tempo, era também discoteca.
De madrugada quando se voltava para casa passava-se e parava-se na barragem, quantas vezes para um banho madrugador, que nos sabia pela vida.
Quando vou à minha terra que obviamente se chama Póvoa e Meadas, gosto de virar em Nisa no caminho que passa por lá e rever aquele sítio, que é um verdadeiro oásis num Alentejo, que não é tão plano e árido como o que as pessoas acham que conhecem.
Lembro-me de quando era mais miúda a segunda feira de Páscoa ser na Barragem, mas com os pais.
Na minha terra existe a tradição do borrego na Páscoa, mas no almoço de domingo comem-se os maranhos e o sarapatel (não vou explicar para não ferir sensibilidades), mas posso dizer-vos que do cabrito e do borrego na minha terra só não se come a pele...
Portanto, no domingo, maranhos e sarapatel e na segunda feira o animal grelhava-se na barragem. Nessa altura ainda não havia ASAE e faziam-se belas fogueiras e belos assados ao ar livre.
Lembro-me do meu avô Álvaro, de quem tenho muitas, muitas saudades a olhar para filhos, filhas, genros, noras, netos e netas de volta de uma fogueira enquanto ele enrolava um dos seus cigarrinhos.
Tenho muitas saudades tuas avô...
Comíamos a carne grelhada, que é ótima, com casqueiro alentejano, vulgo pão, e eventualmente uns pacotes de Pála-Pála (batatas fritas).
Por isto tudo e muitas outras coisas que marcaram a minha infância e adolescência agradeço à Maria Manuela Fidalgo Marques, minha conterrânea e amiga virtual (por enquanto) pelas fotos que partilhou.
Obrigada.