quinta-feira, 14 de junho de 2012

Mais uma daquelas coisas...

... que me fazem muita confusão.
Agora parece moda os pais que perdem os filhos escreverem livros sobre o assunto, em que expõem, com o pretexto de ajudarem pessoas em igual situação, a sua dor, a forma como lidam com ela e como conseguem sobreviver, porque depois de perder um filho, penso que só se consiga sobreviver, não viver.
Não consigo sequer chegar perto de imaginar o que deve sentir um pai ou uma mãe quando perde um filho, e acho que ninguém, a não ser que tenha passado por isso o consegue imaginar, mas mesmo assim faz-me alguma confusão.
"Quando perdemos o marido ou a mulher ficamos viúvos, perdemos o pai ou a mãe, ficamos orfãos, quando perdemos um filho não ficamos nada... Não existe uma palavra para uma mãe ou para um pai que perde um filho!"
Esta frase foi-me dita por uma grande senhora, de quem eu gosto muito, que perdeu um filho e que como tantas outras mães teve de aprender a viver com essa dor e essa perda diariamente.
Percebi perfeitamente a sensação de vazio que deve ser dentro do coração de uma mãe, é que é tão contranatura que nem existe uma palavra no dicionário. É uma coisa que não devia acontecer, até porque acredito que qualquer pai ou mãe a quem fosse dada escolha preferia tomar o lugar do filho.
Por isso não percebo que pessoas conhecidas, ou anónimas, que perderam filhos se predisponham a falar publicamente sobre isso e a partilhar com o mundo uma dor que, para mim, devia permanecer no íntimo de quem a sente.
Mas, lá está, somos todos diferentes e ainda bem que assim é.
Entre esta semana e a próxima estarão à venda dois livros, que vão estar incluídos na categoria de autoajuda, de um pai e de uma mãe que perderam os respetivos filhos.
O primeiro "Desistir Não é Opção" é escrito por Paulo Sousa Costa, que perdeu o filho Paulinho, de apenas seis anos, vítima de uma leucemia galopante e que está prestes a ser novamente pai de uma menina.
Ainda não li o livro, nem sei se terei coragem para tal, até porque já me fartei de chorar só a ler as páginas de pré-publicação que saíram na imprensa. Fiquei chocada com o que li, são frases avassaladoras e dolorosas de um pai que sentiu o vazio deixado pelo filho, que não sabe como vai fazer para amar a bebé que nascerá em breve (porque nenhum filho pode substituir o outro), que pede desculpa à companheira por não conseguir voltar a ser a pessoa que era.
O segundo "Nunca Te Esquecerei", estará à venda na próxima semana e é escrito por Filomena Vieira, a mãe do cantor Angélico, que morreu no ano passado vítima de um brutal acidente de viação.
Ainda não li nada deste segundo livro.
A atitude dos dois pais chocou-me de alguma forma, pois desde a morte dos filhos sempre se mostraram recatados nas emoções, especialmente a mãe de Angélico.
Não parece coerente com a postura dela que agora resolva de repente expôr-se aos olhos e corações do mundo, ainda não teve sequer coragem para regressar ao trabalho...
Como disse no início as pessoas são todas diferentes e ainda bem que o são. Por isso, por serem diferentes, têm formas diferentes de encarar a dor e de viver com ela, de fazer a catarse que lhes permita seguir em frente, e por isso, talvez encontrem algum conforto no facto de pensarem que podem ajudar outros pais na mesma situação a perceber que não estão sozinhos, que a sua dor pode ser entendida por pessoas que passam pela mesma experiência, por pessoas que também deixaram de ter um adjetivo que os defina.
Se bem que o adjetivo deve continuar a ser pai ou mãe, porque, e apesar de o filho deixar de estar presente fisicamente, pai e mãe são "profissões" para a vida. Uma vez mãe, para sempre mãe, é daquelas coisas que nunca se deixam de ser. É o tal emprego para toda a vida.
Mas deve ser tão difícil, deve doer de uma maneira...
Quando um dos nossos filhos está doente, quebra um osso, arranca o dente do siso, tem uma nota menos boa e sofre por isso, a mãe sofre sempre em dobro. Qualquer dor dos nossos filhos nos dói em dobro, perder um...
É o pior dos pesadelos transformado em realidade. O confronto deve ser... brutal, violento, devastador, esgotante, não sei, felizmente não consigo encontrar as palavras.
Nem gosto muito de pensar nestas coisas, embora já tenha sido confrontada com pessoas próximas que passaram por esta situação e que me deixou sempre assustada.
O vazio de expressão que vi nos olhos das mães que conheço que perderam filhos, a violência e intensidade da dor que se podia ler nos rostos, na postura, sempre me deixou sem palavras, sem reação, porque o que é que se pode dizer para consolar alguém que perdeu uma parte de si?
"Sinto muito. Lamento a sua perda". Não me parece que sirva para a ocasião, na verdade não me parece que existam palavras que sirvam para a ocasião. Espero muito sinceramente que os abraços consigam transmitir alguma coisa, porque são o meu recurso nestas situações em que não consigo pensar em nada para dizer, logo eu que tenho sempre tanta coisa para dizer...
As palavras, tantas vezes grandes, são sempre pequenas perante um pai ou uma mãe que perde um filho. Acho que o próprio mundo se torna demasiado pequeno para essa dor.
E que me desculpem os pais e as mães que perderam filhos e lerem isto... Por não conseguir encontrar as palavras para descrever o que gostava de lhes dizer!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quantos são precisos...

Para pintar uma passadeira?
Descobri agora mesmo que são quatro. Na minha rua chegaram quatro senhores com coletes que dizem "Trânsito" e estão a preparar-se para pintar a passadeira da esquina. Descobri que são precisas quatro pessoas para pintar uma passadeira.
Um deles coloca os pinos a delimitar a zona, o segundo tem a responsabilidade da colocação dos sinais de trânsito junto aos pinos, o terceiro está a varrer o pó da passadeira e o quarto, que por enquanto não está a fazer nada suponho que seja o pintor, até porque é o único que tem uma t-shirt branca vestida e não tem colete.
É giro, não é?
Especialmente para mim que sou alentejana e passei metade da minha vida a ouvir coisas do género: quantos alentejanos são precisos para mudar uma lâmpada?; quantos alentejanos são precisos para...?
Afinal descubro que para pintar uma passadeira são precisos quatro ribatejanos...
Esta conversa sobre os alentejanos lembrou-me um episódio memorável em rádio, mais concretamente na Renascença com o atual jurado de A Tua Cara Não Me É Estranha, António Sala.
O Sala fazia um programa nas manhãs da Renascença, que se chamava "Despertar" e todos os dias contava pelo menos uma anedota de alentejanos e de repente alguns alentejanos começaram a ficar mais ou menos chateados com a coisa. É que ele conseguia ser muito irritante. Tenho que reconhecer que o humor dele melhorou bastante desde então.
Bom, voltando ao "Despertar", um dia de manhã, o Sala lançou um repto: "Sabem porque é que os alentejanos têm duas camas no quarto?"
Claro que a ideia dele era dizer que era paquando se levantam voltarem a deitar-se para descansar, mas o tiro saiu-lhe completamente pela culatra.
Um ouvinte alentejano que já devia estar farto dele e das piadas secas sobre a raça, ligou para o programa em direto  e deu a resposta: "Uma das camas é para dormirem com a mulher deles, a outra é para dormirem com a sua..."
............................................
O Sala perdeu completamente o pio, a emissão ficou em silêncio, não me lembro bem, mas seguramente um minuto, e que eu me lembre o Sala parou com as piadas alentejanas, porque ficou a saber que de vez em quando existe um alentejano menos preguiçoso que resolve dar uma lição a estes lisboetas armados em espertos.
Isto não tem nada a ver com a passadeira da minha rua, claro, mas lembrei-me.
E entretanto espreitei pela janela da sala e descobri que chegou mais um, que pelos vistos é o chefe. Está parado a dar ordens ao da t-shirt branca que está a colocar a fita no chão.
Por este andar daqui a bocadinho está todo o departamento de trânsito da cidade concentrado em frente ao meu prédio. Já estou a ver o engarrafamento nos passeios...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu no supermercado

Hoje pensei assim cá para comigo: 'vou buscar um peixe para grelhar para o almoço', e por isso aí por volta do meio dia e qualquer coisa, saí de casa e fui ao supermercado que fica aqui perto, tirei uma senhazinha e esperei pela minha vez.
Até aqui tudo bem. Ao meu lado estava uma senhora de idade, que daqui em diante vou passar a designar por velha, que pelos vistos nunca tinha ido ao supermercado e não sabe como funciona o sistema de senhas.
A senhora do peixe diz: '9', e eu 'sou eu', e a velha:' ai desculpe, mas eu já estava aqui antes de VOCÊ aqui chegar'.
E eu: ' e onde está a sua senha?'
E ela: 'Não tenho. Nem sabia que era preciso!'
E eu: 'Pois não tenho nada a ver com isso, eu sou o nove e quero carapaus, se faz favor'
E a velha: ' Que falta de respeito. Eu já tenho idade e estou cheia de pressa??!!! Não custava nada deixar-me aviar primeiro'
E eu: Pois eu também já tenho a minha certa idade e a coisa que mais me irrita é aturar madurezas de gente que acha que a idade lhes dá estatuto para poderem fazer tudo o que querem. São três carapaus destes grandes se faz favor e uma pescada para cozer.
E a velha: Hoje em dia ninguém respeita os mais velhos. Esta juventude (eu tenho 46 anos, por amor de Deus, não tenho 16) não quer saber dos velhos, não são capazes de facilitar um bocadinho...
E eu: Olhe minha senhora, cada um tem os seus problemas, a senhora tem a idade e tem pressa, eu tenho a minha própria idade e de certeza muito mais pressa que a senhora. E já agora se não se importa pode parar com a conversa porque isso não vai levá-la a lado nenhum e eu não sou pessoa de me comover e digo-lhe já de caras que não gosto de velhos. Especialmente quando são abusadores como a senhora e fazem de conta que não sabem como funciona o supermercado e as senhas de vez...
E a velha: Eu juro que não sabia...
E eu, já irritada e capaz de a estrafegar: Que estranho, tendo em conta que eu a vejo por aqui de cada vez que cá venho e que já não é a primeira vez que tenta passar à minha frente. Olhe a última foi na caixa. Por isso e para a senhora não se humilhar mais pode ficar caladinha que fica muito mais bonita.
E a velha, já aos gritos: Que falta de respeito!!!
E eu: Se eu fosse a si tirava uma senhazinha para o peixe que entretanto já há mais umas 3 ou 4 pessoas à sua frente!
E entretanto o meu peixinho estava pronto e virei-lhe as costinhas e fui-me embora e achei na minha inocência que o assunto morria ali.
Pois acreditem que a senhora de idade, que estava com tanta pressa, andou atrás de mim pelo supermercado a insultar-me, até que eu perdi a paciência, fiz sinal ao segurança, que é um senhor já de uma certa idade, amoroso, e disse-lhe simplesmente:
- Bom dia. Peço desculpa por estar a incomodá-lo, mas esta senhora está a insultar-me e a incomodar-me. Não se importa?
E a senhora de idade, que pelos vistos já tem currículo no supermercado saiu sem peixe e sem almoço.
Bem feita.
A sério que esta gente me perturba. Mas que raio de sina que eu tenho, que estas v... vêm sempre implicar comigo, que tenho pouca paciência para elas, não gosto delas, nem do cheiro a naftalina e tenho um pavio curtíssimo.
Para a próxima vez já tomei uma decisão, vou presa mas aperto o pescoço à velha!
Está dito!
Espero que me deixem usar a internet da prisão para eu depois comunicar em que estabelecimento prisional estou.
Eu não me meto com ninguém e respeito todas as pessoas até me pisarem os calos (que por acaso nem tenho), mas a falta de civismo das pessoas deixa-me completamente possuída e à beira da loucura. Acho que vou passar a levar o ferro de golfe para o supermercado!
Isso é que era!

E voltamos à seleção!

Depois do meu post de ontem hoje de manhã tive mais uma linda surpresa no que toca ao alojamento dos "vinte e três magníficos", (só a expressão já me dá ânsias, que na minha terra é o equivalente a comiçhões).
Numa revista que vi hoje de manhã está a lista das seleções mais gastadoras. Adivinhem lá quem são os primeiros? Os Tugas, claro, com os tais 33 mil euros diários. Somos seguidos pela Rússia, 30 mil euros diários, Polónia, 24 mil, Irlanda, 23 mil e Alemanha 22 mil.
Eu não quero ser intriguista, mas a verdade é que a Rússia podia de certeza absoluta pagar com muito mais facilidade um hotel mais caro, mas pronto.
Imaginem lá que o Europeu dura um mês - vamos gastar para aí um milhão de euros com estes fulanos - é inadmissível. A mim ainda nem me reembolsaram o IRS.
Já era de esperar, nem posso dizer que fiquei surpreendida. Os portugueses nestas coisas é sempre tudo em grande, que é para os desgostos serem ainda maiores, quando as coisas correm mal, que como já estamos habituados é o que acontece normalmente.
E só para que fique esclarecido eu até espero que Portugal vá, como é que se diz, longe no Europeu, mas são motivos mais pessoais que não vou revelar aqui... Se eu fosse figura pública, amanhã já havia manchetes escritas "Fulana de tal tem um caso com um jogador da seleçao", o que era no mínimo hilariante, por isso ainda bem que não sou.
Tive mais uma surpresa matinal, ou melhor duas.
A primeira é que finalmente descobri que tenho uma coisa em comum com Cavaco Silva, não somos fãs de alemães. O Senhor Presidente da República, que para mim já passou o prazo de validade há muito tempo, pediu aos jogadores para "neste momento difícil que Portugal atravessa", darem o seu melhor na sua prestação ao longo do Europeu e, esta é a parte que temos em comum, muito especialmente no jogo contra a Alemanha.
Pois, percebe-se, ele quer vingar-se do estrago que tia Merkel tem feito na moral lusitana. Acho muito bem. Podemos perder a porcaria do mundial, perdão, Europeu, logo na primeira etapa, duvido que isto se diga assim, mas pelo menos vejam lá se nos dão o gostinho de ganharem aos alemães, de termos uma hipótese, umazinha que seja, de humilhar a tia Merkel e fazê-la meter a viola no saco. Ah ganda Cavaco, é assim mesmo, finalmente descobrimos em ti vestígios do gene humano que já duvidávamos que existisse. Sim, porque aquele homem parece um bocadinho alien, certo? Estou sempre à espera de o ver apontar para o céu e dizer: HOME!!!
Depois tive outra surpresa, que não foi propriamente uma surpresa, mas mais uma constatação, o Ronaldo é um grunho do pior.
Então o cachopo chega-se ao pé do Senhor Presidente da República Portuguesa (isto é escrito em tom irónico, não sei se já tinham percebido) e dá-lhe a bendita camisola das quinas e diz: "Gostávamos de convidar você a assistir a um jogo ao vivo". Mas será que ninguém foi capaz de lhe escrever duas frases e obrigá-lo a decorá-las e treinar com ele até à exaustão e poupá-lo a este tipo de figura?
Caramba, o rapaz tem dinheiro, uma namorada gira, um filho de mãe icógnita, é filho da Dona Dolores (cá está outra vez o tom irónico) e não tem ninguém que seja capaz de olhar por ele? A Dona Dolores nestas coisas devia estar mais atenta...
Quer dizer, toda a gente de vez em quando dá as suas calinadas na língua portuguesa, agora um bocadinho mais brasileira que antes, mas na frente do Senhor Presidente da República (agora deram por isso?)?
Coitado, até tive pena dele, não que ele deva ter reparado na porcaria que disse, mas porque de certeza que no Youtube (se aconteceu está no Youtube) o vídeo vai de certeza ter muitas visualizações - o dia em que o ronaldo mostrou ao mundo que é um ignorante, apesar dos muitos milhões que ganha.
E note-se que eu não sou daquelas pessoas cínicas e muito mentirosas que dizem que não têm inveja do Ronaldo. Eu tenho e não é pouca. Não lhe invejo a Dona Dolores, nem as manas Aveiro, o cunhado, o filho de mãe icógnita, os guarda costas, o namorado da mãe, enfim, nada  disso. O que eu invejo, mesmo a sério, é a continha bancária do cachopo, que me dava um jeito bestial.
Já me estou a ver com um cartãozinho de crédito a jeito a fazer tanta coisinha agradável. Pronto, eu sei, é mesmo pensamento de mulher. E então? Eu também nunca disse que era homem, pois não? Nem nunca fui daquelas que apregoam o feminismo e que acham que as mulheres deviam deixar de ser quem são. Tenham lá santa paciência. Eu gosto de ser mulher, gosto de ir às compras, gosto que me abram a portinha do carro e as portinhas por onde tenho de entrar, gosto de ser mimada e não tenho vergonha disso.
E também gosto de cozinhar, de fazer ponto de cruz, de fazer o jantar e isso não combina nada com a emancipação feminina.
E gosto de trabalhar e de manter um bocadinho de independência mas ao mesmo tempo de me sentir segura numa relação.
Pronto está dito!
Afastei-me do objetivo deste post que era o regresso à seleção. Vou continuar a acompanhar a prestação dos "vinte e três magníficos" (lá está o tom) e vou dando conta das minhas impressões sobre o assunto.
Como diriam os brasileiros: "Me aguardem!"

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Turquia 3 - Portugal 1

Esta coisa do futebol é das que mais confusões me faz, especialmente quando começo a pensar no dinheiro que gastamos com estes marmelos.
Então a seleção vai custar qualquer coisa como 33 mil euros por dia, em hotel, massagens, comidas, transportes e sabe-se lá mais o quê...
Então os meninos estiveram em Óbidos muito bem instaladinhos, a viver à grande e à portuguesa (sim que já nem os franceses se permitem a estas mordomias) e depois num joguinho da treta contra a Turquia não conseguem mais do que um miserável 3-1?
Que me desculpem os aficionados do desporto-rei, como lhe chamam, mas para mim esta treta da seleção é assim uma coisa ao nível dos funcionários públicos - fazem tanta falta como a peste negra.
Senão vejam: a seleção está cheia de craques, Ronaldos e afins que jogam o ano todo nos clubes que lhes pagam uma fortuna para eles jogarem a sério e agora que acabaram as épocas eles querem o quê? Férias, claro, como qualquer pessoa normal e eu até acredito que lá bem no fundo, no fundo, eles sejam pessoas normais.
Vocês acham que o Ronaldo por muito que goste de andar aos pontapés à bola não preferia agora estar num iate de luxo, num sitio paradisiaco agarradinho à russa  e a dourar ao sol, em vez de ter que vestir um equipamento (feio, por sinal) e andar a cansar-se atrás da bola em nome do país?
Ponham-se no lugar dele e vejam lá o que preferiam? Francamente acho que até eu me agarrava à russa...
E os outros vão pelo mesmo caminho, todos eles têm namoradas, mulheres, etcs., com quem preferiam estar em vez de andarem a apanhar calor nos relvados.
Eu até sou bastante suspeita para me pronunciar sobre este assunto porque não gosto de futebol e portanto por mim, seja Portugal ou seja lá o que for não me parece que seja um assunto de interesse nacional, mas pronto...
Ainda há bocado ouvi na TVI a Fátima Lopes, a apresentadora, a dizer que o futebol pode ajudar a elevar a moral do país, como, segundo ela, aconteceu em 2004 em que os portugueses se uniram todos em nome do orgulho e do amor à bandeira.
Eh pá, fiquei um bocadinho ofendida. Queres ver que a outra acha que quem não gosta de futebol e não fica de alma cheia por ver o jogadores da seleção não tem amor à pátria nem à bandeira?
E mais, eleva a moral do país ou distrai a atenção das pessoas dos verdadeiros problemas?
Quem não se lembra dos famosos três F's de Salazar: "Fado, Fátima e Futebol"? a maneira mais fácil de manter o rebanho ordeiro e tranquilo enquanto ele fazia o que queria, sendo que visto a esta distância nessa altura vivia-se mal, mas o país tinha dinheiro, construiam-se escolas e hospitais e o pão era considerado um bem de primeira necessidade. Já hoje...
Pois eu, que por enquanto ainda não sei o que fiz ao meu filtro, acho que o futebol é uma seca e tenho a certeza de que já foi responsável por muitos divórcios. Mas quem é que raio tem pachorra para aturar jogos diários, às horas mais inacreditáveis e ter que levar com o barulho dos adeptos, dos jogadores, que ainda por cima cospem para o chão e sim já sei que parece que lhes faz falta, mas não deixa de ser nojento por isso e depois com o orgulho nacional de rastos quando eles voltarem todos de rabinho entre as pernas porque coitadinhos tiveram azar, o árbitro estava do lado dos outros, o não sei quantos estava desconcentrado porque a namorada estava a pressioná-lo para ir de férias, marcar a data do casamento...
Lembro-me de um Euro ou de um Mundial qualquer, acho que no México, mas não posso jurar, em que os jogadores portugueses andavam literalmente a chutar as chuteiras, passe o pleonasmo, no relvado. Isto depois de termos deslocado cozinheiros e ajudantes de cozinha, médicos e enfermeiros, provavelmente psicólogos e sabe Deus mais o quê para acompanhar a equipa das quinas.
Espero, muito sinceramente que o dinheiro destas tretas não venha dos nossos impostos, mas quase de certeza que vem, porque eu não me apetece pagar impostos para ver as pernas dos Ronaldos e amigos, que ainda por cima não são grande coisa. Se eu tiver de pagar impostos para ver as pernas de alguém, e não me parece que eu pagasse para isso, já agora dêem-me o direito de escolher as pernas que quero ver.
Resumindo: ainda a procissão vai no adro e não começaram os jogos a sério e para além de termos sido apurados à tangente para o tal do Euro já andamos a perder jogos. Com a Turquia. Por 3-1.
Eu encerro aqui a minha argumentação.
É que com esta crise o futebol já nem para o negócio da imperial e do tremoço dá jeito...
E mesmo que desse, eu já nem vendo imperial, nem tremoço...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Da infância...

A minha infância está intrinsecamente ligada ao Alentejo. Filha única vivia completamente isolada do mundo e só no Verão na casa do meu avô soltava a franga. E de que maneira.
Eu, o meu primo Z. e a irmã dele, a P., foram o que de mais próximo tive de dois irmãos, ou pelo menos era assim que olhava para eles.
Os três éramos inseparáveis nas brincadeiras e muito especialmente nas asneiras. Segundo o meu pai, só tinhamos ideias de gente parva. Ah pois tínhamos e muitas. Éramos garotos, adorávamos andar à solta e o Verão era o tempo em que tudo era permitido.
Ou pelo menos na casa do meu avô tudo era permitido, porque ele achava que "os gaiatos têm que se entreter" e portanto nós aproveitávamos e entretíamo-nos.
Na casa do avô existia uma burra que o meu primo muito simpaticamente batizou de Esquisita, em homenagem a mim.
Sempre tive uma certa fama...
Na verdade não sou esquisita, talvez especial, mas o meu primo referia-se mais especificamente à comida.
Analisando as coisas do ponto de vista de uma pessoa de 45 anos, quase 46, eu diria que o esquisito era ele, que só gostava de batatas fritas, ovos estrelados e salsichas. Já eu só não como feijão frade, caril e chocolate.
Na casa do avô as batatas eram fritas em azeite e o azeite da altura era pesado, verde, grosso, em resumo nojento. As batatas era intragáveis, pelo menos para mim, que ainda por cima sou um bocado alérgica às gorduras ainda hoje.
A minha alcunha veio daí, eu era esquisita porque não gostava de batatas fritas em azeite, mas em contrapartida comia peixe grelhado ou cozido, legumes, sopa, enfim... já o meu primo nem por isso. E não sei se agora come. E já tem 50 anos.
Estão a ver o género?
Voltando à burra... A Esquisita era um animal muito manso, cinzento clarinho, ou pelo menos é assim que me lembro dela. Quando sentíamos o meu avô chegar íamos a correr para fazer o caminho até casa montados na Esquisita.
Era o nosso meio de transporte até à Ribeira de S. João ou à outra de que não me lembro o nome. O meu avô punha-nos lá em cima e lá íamos a balançar para um dia de pesca e de aventura. Perdi o conto às nodoas negras e às esfoladelas que fiz nos canchos (são pedras que nascem do chão e não sei explicar melhor), que estavam escorregadias e que pregaram comigo na água vezes sem conta.
Na caso do avô não havia luz e por isso depois de jantar tínhamos que puxar pela imaginação para passar o serão.
Eu e os meus primos ensaiávamos teatros, concertos... Eu canto tão mal, que até tenho pena dos meus tios que tiveram de me aturar, mas também era a única que sabia as letras. Ainda me lembro de L'oiseaux et l'enfant, acho que é assim que se escreve, de Marie Myriam, que ganhou um festival da eurovisão e que eu sabia na ponta da língua, entre muitas outras.
Vestia o vestido de noiva da minha mãe, que andava por lá a rebolar, o meu primo fazia de conta que tocava viola, a irmã dele acompanhava no coro e pronto, tínhamos a família entretida durante o serão.
E sabem o melhor? Éramos pagos. O meu avô dava o exemplo e puxava da carteira para dar tipo 5 escudos a cada um, devem ser para aí dois cêntimos e claro, o resto da família tinha que participar.
No fim do verão se não tívessemos o péssimo hábito de ir à aldeia à tasca do Sr. João, no Castelo comprar rebuçados de osso  estávamos ricos. Nunca ficámos, claro. Os gelados, os rebuçados, as batatas fritas e outros afins eram demasiado apelativos para nós.
Havia tão poucos carros que mesmo miúdos escapavamos sozinhos para a aldeia para ir às compras. Sem medos, toda a gente sabia que éramos netos do Ti Zé Álvaro e pelo menos os meus primos que passavam lá mais tempo conheciam toda a gente. Eu era a esquisita que ia de Lisboa. Enfim...
Das primeiras recordações que tenho da casa do meu avô está a morte da minha avó Cecília. Eu tinha quatro anos e lembro-me que fui com a minha mãe e o meu padrinho de comboio e ainda chegámos a tempo de ver a avó Cecília viva.
A avó estava paraplégica já há muito tempo, nunca consegui perceber porquê, mas é uma doença que tem a ver com o reumático. Costumavam sentar-me no colo dela e ela contava-me histórias. Era muito doce a avó Cecília. Dizem que herdei dela os olhos verdes, as mãos compridas e fininhas e as unhas redondas e bonitas. São três coisas de que tenho muito orgulho, tal como a bolinha no nariz que herdei do avó Álvaro. É uma bolinha muito especial, afinal o meu avô tinha uma igual.
Quando chegámos a avó pediu para falar comigo. Queria pedir-me para tomar conta do meu padrinho que andava sempre todo partido porque se metia nas garraiadas e já tinha idade para ter juízo.
Ainda me lembro: Filha, toma conta do teu padrinho, não o deixes mais meter-se nas touradas. Não te esqueças.
Não me esqueci avó e tomei conta, ele nunca mais entrou numa tourada, excepto para ajudar um amigo, colhido por um touro. Eu prometi e cumpri. Era incapaz de me esquecer do teu pedido, como fui incapaz de me esquecer de ti. E acredites ou não tenho saudades tuas avó. Fizeste-me a mim e a todos na família muita falta. Especialmente ao avô, mas espero que agora estejam de novo juntos.
O avô morreu quando eu tinha doze anos, por altura da Páscoa. Lembro-me de um dia muito chuvoso em que apareceu uma prima da minha mãe para nos dar a notícia. Nessa altura quase ninguém tinha telefone. Fomos de carro para o Alentejo. Chorei o caminho todo e não consegui ver o avô no caixão. Prefiro lembrá-lo sentado na pedra ao lado da casa a enrolar o seu cigarrinho e com a boina de borla pendurada.
O meu avô Zé Álvaro, que na verdade se chamava Zé António era um homem maravilhoso e lindo.
tinha uns olhos azuis, era alto e elegante e até ao fim usou sempre os seus fatinhos de coletinho e jaquetinha, muitos de seborreco, que lhe ficavam tão bem.
Quando chegávamos cá abaixo à fonte Pales olhava para cima e invariavelmente o meu avô lá estava, sentado na sua pedrinha a enrolar o seu cigarrinho.
A sua morte foi prematura e deixou um buraco gigante na família. Do meu ponto de vista nunca mais recuperámos. Eu pelo menos não recuperei.
Tinha uma verdadeira adoração pelo meu avô e ainda tenho. A saudade que a morte dele me deixou acompanhou-me desde então e já faz parte de mim. Acho que vou morrer com ela.
Só voltei a casa do meu avô depois da morte dele há dois anos, no Verão.
Os meus tios organizaram um almoço e resolveram fazê-lo lá.
Acreditem ou não estive longos minutos no carro a soluçar e a tremer sem conseguir sair. Foi horrível.
Quando finalmente consegui sair do carro e entrei em casa dei de caras com uma fotografia do meu avô e da minha avó na parede em frente à porta e desabei completamente. Nunca mais me apanham. Aquela casa era o meu avô. Sem ele prefiro ignorá-la. E eu nasci lá.
Não sou pessoa de ir ao cemitério e francamente nem sei em que data ele morreu. Nem me interessa. Lembro-me dele todos os dias, tenho saudades dele todos os dias mas de alguma forma sinto que o meu avô não me abandonou. Eu sei que é estranho, mas às vezes sinto como que uma carícia no rosto e não me perguntem porquê mas quero acreditar que seja o avô Álvaro.
Era um homem bom, muito bom, amigo do seu amigo, dos filhos, dos netos e de um copinho...
"Filhas, já venho bêbado", dizia às veze ao fim da tarde quando chegava a casa. E era dia de histórias e canções. O avô contava coisas da sua infância e cantáva-nos canções do tempo dele. "Sete peixinhos, sete peixinhos, fui eu que os vi a nadar...".
Obrigada avô, por teres feito parte tão integrante e forte da minha vida. Por teres sido e continuares a ser um modelo.
Amo-te muito!

A barragem da minha terra


Com a devida vénia a uma conterrânea "roubei" esta foto do seu Facebook.
Esta é uma foto da Barragem de Póvoa e Meadas, um sítio que me traz à memória recordações que nunca mais acabam. Recordações boas, muito boas!
Comecei a ir à barragem desde miúda. Sempre que ia passar os Verões ao Alentejo, e ia sempre, a barragem fazia parte da nossa vida.
Passava o tempo na casa do meu avô, um monte alentejano no verdadeiro sentido da palavra, onde aliás nasci, isolado de tudo e de todos, onde eu e os meus primos corríamos à vontade, esfolávamos os joelhos e fazíamos mil e uma asneiras completamente defendidos pelo meu avô que nos deixava fazer tudo.
De vez em quando havia um tio que dizia, vamos à barragem.
Epá, era num instante que arranjávamos toalhas e vestíamos fatos de banho. Excitadíssimos, claro. O meu primo é cinco anos mais velho e a irmã dele um ano mais nova do que eu e os três passámos muitos e bons momentos na casa do meu avô.
Regressando à barragem... (Começo a achar que as minhas filhas têm razão, eu disperso-me muito).
Ir para a barragem significava tudo o que as crianças gostam, água, mergulhos (excepto para mim, claro), sol e um bronzeado do tipo "cor dos torresmos" no fim do dia.
Mais tarde, já adolescente, para além do Verão, ia para a barragem com os meus amigos na segunda feira de Páscoa.
Íamos todos em grupo, a pé, com cestos e cestos de comida e bebida, equipados a rigor para um piquenique "lancheiro" em grande.
Belos dias que passei por lá. Apanhávamos amoras mansas, cantávamos, tomávamos banho quando o tempo permitia e voltávamos ao fim do dia cansados, meio bebidos  e muito, muito sujos.
Também no Verão comecei a ir com amigas durante o dia, ver os moços, claro, mostrar as curvas em biquini e fazer aquelas coisas que as adolescentes fazem quando estão juntas e que na altura são o melhor do mundo - rir, conversar, viver...
A barragem também era sítio de paragem quando se saía do Pedro V, em Castelo de Vide, que agora é só restaurante, mas no meu tempo, era também discoteca.
De madrugada quando se voltava para casa passava-se e parava-se na barragem, quantas vezes para um banho madrugador, que nos sabia pela vida.
Quando vou à minha terra que obviamente se chama Póvoa e Meadas, gosto de virar em Nisa no caminho que passa por lá e rever aquele sítio, que é um verdadeiro oásis num Alentejo, que não é tão plano e árido como o que as pessoas acham que conhecem.
Lembro-me de quando era mais miúda a segunda feira de Páscoa ser na Barragem, mas com os pais.
Na minha terra existe a tradição do borrego na Páscoa, mas no almoço de domingo comem-se os maranhos e o sarapatel (não vou explicar para não ferir sensibilidades), mas posso dizer-vos que do cabrito e do borrego na minha terra só não se come a pele...
Portanto, no domingo, maranhos e sarapatel e na segunda feira o animal grelhava-se na barragem. Nessa altura ainda não havia ASAE e faziam-se belas fogueiras e belos assados ao ar livre.
Lembro-me do meu avô Álvaro, de quem tenho muitas, muitas saudades a olhar para filhos, filhas, genros, noras, netos e netas de volta de uma fogueira enquanto ele enrolava um dos seus cigarrinhos.
Tenho muitas saudades tuas avô...
Comíamos a carne grelhada, que é ótima, com casqueiro alentejano, vulgo pão, e eventualmente uns pacotes de Pála-Pála (batatas fritas).
Por isto tudo e muitas outras coisas que marcaram a minha infância e adolescência agradeço à Maria Manuela Fidalgo Marques, minha conterrânea e amiga virtual (por enquanto) pelas fotos que partilhou.
Obrigada.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tá tudo doido!

Li hoje no Jornal de Negócios que uma empresa de aviação anunciou um pacote de medidas para reduzir o peso nos seus aviões e assim poupar nos combustíveis.
Uma dessas medidas, pasmem, é a exigência de que as suas hospedeiras emagreçam!!!
Sou só eu, ou mais alguém acha que isto não é normal?
Já estou a ver os anúncios de emprego desta companhia: "Companhia aérea admite hospedeiras. Requisitos - não pode pesar mais de 48kgs".
Mas o que é que passa pela cabeça das pessoas quando dizem estas coisas?
Andam a fumar ou a snifar alguma coisa e o produto é de má qualidade?
É que assim de repente é a única explicação que me ocorre.
Como é que é possível que uma empresa possa ter legitimidade para anunciar este tipo de medida?
Então uma pessoa agora para manter o seu emprego tem que deixar de comer?
A brilhante ideia da companhia aérea é a de premiar as hospedeiras e comissários de bordo que estejam em forma e dar-lhes a possibilidade de serem selecionados para o seu calendário anual.
Isto é verdadeiramente uma medida económica.
Pensem bem:
- Primeiro reduzem o peso nos aviões e poupam combustível.
- Segundo poupam dinheiro na contratação de modelos para o calendário anual e ainda o fazem como se fosse um prémio de consolação para os magrinhos.
- Terceiro e provavelmente foi esta será a consequência mais importante - passam a ter funcionários muito mais saudáveis, sem colesterol, diabetes e etc.. (Acho que eles não se lembraram desta, eu é que pensei no caso).
Já me estou a ver a concorrer a um anúncio de emprego e dizerem-me: ' Desculpe, mas você pesa 55kgs, portanto está fora de questão contratá-la. Até tem um bom curriculo e tirando o peso até servia...'.
Acho que arrancava os olhos à criatura que estivesse à minha frente.
Uma pessoa leva uma vida inteira a aprender a viver consigo, a aceitar-se tal como é e depois aparece um pseudo recrutador e diz-lhe que ai e tal e tem mais 5 ou 6 ou 7 kgs, que o requisito do anúncio.
Se hoje fosse dia 1 de Abril eu ia pensar que esta era uma belíssima mentira.
Infelizmente não é e isto é grave.
Esta é que era uma boa coisa para o sindicatos atacarem, não o facto de os funcionários do Jerónimo Martins terem trabalhado no dia 1 de Maio.
Viram? Só tenho pena que o meu blogue ainda não chegue às esferas sindicais.
Mas também, mesmo que chegasse o mais certo era acabarem com ele...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Pingo Doce e o 1º de Maio

É o novo escândalo nacional.
O Pingo Doce OBRIGOU os seus funcionários a trabalharem no 1º de Maio e pior que isso fez uma promoção em que a partir de 100 euros de compras os clientes pagavam apenas 50% do valor total da factura.
ESCANDALOSO!!!
Note-se que eu estava a ser irónica, vocês é que não ouviram o tom do meu pensamento...
Eu realmente nunca tive veia de sindicalista e de cada vez que oiço os senhores sindicalistas a falar na televisão, fico ainda com menos veia.
Num país que está no estado deplorável em que este está, os sindicatos só reclamaram de os funcionários do Pingo Doce serem forçados a trabalhar no dia do Trabalhador.
Esqueceram-se da quantidade gigantesca de famílias que este mês vai comer melhor e ver os seus orçamentos um bocadinho menos apertados com esta iniciativa.
Pois eu achei fantástica a promoção e só tenho pena de não ter chegado a tempo de aproveitar.
Mas fazer compras a 50% dos preços que atualmente se praticam nos supermercados parece-me bastante aliciante.
Aposto o que quiserem que os senhores sindicalistas estavam nas manifestaçõezinhas da treta, que não alimentam ninguém e onde o dinheiro que gastam nos cartazes, transportes, etc, dava para alimentar umas tantas famílias, mas as suas empregadas estavam na fila dos Pingo Doce deste país a fazerem as comprinhas lá para casa. Sim que eles podem ser defensores dos trabalhadores, mas também comem.
Mais, já pensaram, os senhores sindicalistas que por este andar qualquer dia não há trabalhadores para defender?
E já pensaram os senhores trabalhadores, que ainda o são, que a quota do sindicato podia ser mais útil se fosse gasta no Pingo Doce?
Lamentável, para mim, não foi o facto de os funcionários do grupo Jerónimo Martins trabalharem no 1º de Maio. Eu também já trabalhei em muitos 1ºs de Maio e nunca me caiu nada, nunca me fez mal e enquanto funcionária por conta de outrém até foi benéfico, porque sendo feriado é pago a dobrar e dá sempre jeito...
Lamentável foi o facto de a miséria das pessoas as levar a destruir basicamente os supermercados e a entrar em conflito pelos produtos das prateleiras.
Lamentável foi ter sido necessária a intervenção da polícia e os feridos que resultaram de alguns desacatos.
Lamentável foi o negócio de aluguer de carrinhos que o "portuga" logo arranjou e que chegou, segundo li na net, a atingir o valor de 20€ por carrinho.
Lamentável foi a confusão, o esvaziar indiscriminado de prateleiras e o exagero de porcarias que me foi dado observar.
Eu que não sabia de nada quando cheguei de manhã para comprar o pão e aquelas coisinhas do dia-a-dia ao PD mais perto de mim até me assustei... Parecia que ia haver guerra e que a comida ia passar a ser racionada. O senhor que estava à minha frente tinha assim umas compras magnificas, coca-cola, chocolates, gelados, bolachas, enfim... Nada saudável ou de primeira necessidade.
Bom mesmo foi ver famílias a aproveitar para comprar fraldas para os bebés, papas, leites e outros bens de primeira necessidade, que provavelmente muitas vezes falham em muitos lares portugueses nesta altura.
Bom também para os funcionários do PD que este mês vão ter o recibo de ordenado um bocadinho mais composto com um feriadinho...
Nao acreditam? Experimentem tentar viver com um ordenado de 500€ e pensem lá se tudo o que vier em acréscimo não é bom...
Enquanto neste país os sindicatos continuarem a defender interesses do século dezanove e a usar palas nos olhos como os burros, as pessoas continuarem a ter falta de civismo e a ser contra tudo e todos, só pelo prazer de serem do contra, não vamos a lado nenhum.
O dia 1 de Maio é um dia como qualquer outro.
Ah e tal porque é o dia do Trabalhador.
Fantástico.
Nesse caso: Trabalhe-se.
Por este andar é aproveitar enquanto há...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril de 1974

Eu tinha sete anos no dia 25 de Abril de 1974.
Andava na 2ª classe e recordo-me de acordar e ouvir os aviões da Base Aérea de Alverca a sobrevoarem a minha casa.
- Oh mãe, o que é que se passa?
- É a guerra, vão levar tudo...
Tudo? Ai, os meus brinquedos, pensei eu. Lembro-me tão bem.
Sempre fui muito ciosa das minhas propriedades, que na altura se limitavam a tachinhos, panelinhas, alguidares, chávenas, pratos, etc. Tinha um saco enorme cheio de tralha que o meu padrinho me trazia da fábrica do Omo, onde trabalhava.
O Omo, para os mais novos, era um detergente em pó para lavar roupa à mão, numa altura em que poucas pessoas tinham máquina de lavar roupa, e que trazia uns brindes nos pacotes. Normalmente uns brinquedos em plástico, de que eu tinha assim uma quantidade industrial.
Lembro-me particularmente de uma balança daquelas antigas com dois pratos que eu adorava de paixão. Sempre fui muito ligada à cozinha...
Pensando na tal "guerra", (a minha mãe ainda é mais dramática que eu), resolvi tomar medidas drásticas.
Abri um buraco no quintal e tratei de pôr as minhas coisas a salvo. Meti todos os meus pequenos brinquedos, na verdade e pensando bem no assunto, os meus primeiros utensílios de cozinha, no buraco e tapei-os novamente.
"Podem levar tudo, menos as minhas coisas", pensei.
Lembro-me tão bem.
Arranjei-me e fui para a escola, de onde voltei recambiada e contrariada, para casa, porque havia uma revolução, palavra desconhecida para mim, e portanto nada de aulas.
Depois lembro-me das músicas na televisão, o "Grândola Vila Morena", "Depois do Adeus", uma de que não sei o nome mas que tinha uma estrofe: "Vi as portas da prisão abertas de par em par, vi passar a procissão do meu país a cantar, agora o povo unido, nunca mais será vencido...". As coisas de que me lembro. O meu disco rígido é ilimitado para estas porcarias...
Aos poucos fui adquirindo outros conhecimentos sobre o dia em que não tive escola e percebendo a importância que isso tinha para as pessoas, para o país.
Aos sete anos a perspectiva de um país mais livre não me dizia grande coisa. Lamento, mas os meus brinquedos eram muito mais importantes para mim.
Anos mais tarde, por volta dos anos oitenta, na altura em que Portugal descobriu as marquises, uma coisa que nunca devia ter sido inventada, de tão feia que é, os meus pais, sempre muito atualizados nestas coisas, também construiram a sua marquise.
Onde?
Exatamente por cima dos meus brinquedos que ainda estavam enterrados onde os escondi para os proteger da "guerra" e onde ainda hoje estão.
Imaginem daqui a uns milhares de anos, as civilizações futuras a procederem a escavações naquele sítio e as notícias das descobertas: "No século vinte as pessoas eram minúsculas. Vejam o tamanho dos seus utensílios de cozinha". E tudo por culpa de uma cachopa dramática que resolveu proteger de forma radical as suas preciosas propriedades.
E já agora ficam a saber que continuo tão dramática como era no dia 25 de Abril de 1974.

O que aprendi com as minhas filhas?

É daquelas perguntas que nunca tinha colocado a mim mesma.
Mas hoje estava a ler um artigo na revista Activa onde a questão é colocada e fiquei a pensar no assunto.
O que aprendi com as minhas filhas?
Acima de tudo aprendi a amar incondicionalmente. Aprendi que o bem estar, a felicidade, o sorriso das minhas filhas são as coisas mais importantes do mundo para mim.
Lembro-me do dia em que nasceram e olhei para elas pela primeira vez e senti o coração tão cheio de um sentimento tão novo.
E lembro-me de sentir um medo enorme que dura até hoje.
Medo de não conseguir, de não ser suficiente, de não ser boa mãe, de não me amarem como eu as amo a elas, de... tudo!!!
As mães têm medo de tudo. É uma coisa horrivel, que não se consegue controlar e que nos leva a fazer coisas que nos parecem depois completamente ridiculas.
Eu tenho algumas dessas coisas que as minhas filhas me recordam de vez em quando entre gargalhadas de puro gozo com os meus medos.
"Oh mãe, és tão dramática".
Pois sou. Muito dramática mesmo. É uma tragédia, mas infelizmente para as três não há nada que eu possa fazer para evitar. É assim uma daquelas coisas que eu vou levar comigo para o forno (eu quero ser cremada quando morrer, por isso não posso dizer para a cova...).
Voltando ao que aprendi com elas...
Aprendi que posso ser uma pessoa muito obcecada. O meu instinto animal, como elas dizem, é verdadeiramente selvagem, quando alguém se mete com as minhas loiras.
Não há nada a fazer, instinto animal e amor e medo maternal são uma mistura explosiva.
Aprendi que sou muito teimosa... A mais nova tem muita coisa de feitio em comum comigo e, se por isso, muitas vezes percebo bem as reações dela, também percebo o quanto posso exasperar as pessoas.
Aprendi que posso ser capaz de matar alguém que as faça sofrer e odiar pessoas de paixão.
Aprendi que estou sempre desactualizada em termos musicais: "Tu só ouves as músicas da M80". É mentira, ouço outras coisas, mas nada que elas considerem música.
Aprendi que a cumplicidade entre as duas acaba sempre por se virar contra mim. Em caso de dúvida estamos as duas contra a mãe.
Aprendi que sou capaz de controlar muita coisa em mim para as proteger.
Aprendi que posso comer pizza para lhes fazer companhia.
Aprendi a viver com barulho e passei a adorar ter os amigos delas em casa para as ter mais ao pé de mim. E que gosto genuinamente deles e que nem todos os adolescentes são "rascas". Alguns até são miúdos fantásticos.
Aprendi que ser mãe significa deixar crescer, largar, que cortar o cortão umbilical não é coisa do momento do parto, mas sim uma coisa para a vida. Todos os dias cortamos um bocadinho. E todos os dias dói, mas também nos dá uma enorme sensação de orgulho. É que cada corte significa que elas cresceram mais um bocadinho.
Aprendi o que é ter alguém dentro de nós durante nove meses em que me senti tão feliz e completa e de repente a sensação de vazio quando elas nasceram.
Aprendi a lidar com namorados, amigos, professores, pais dos amigos, festivais de verão, férias com os amigos, medo...
Aprendi tanto com as minhas filhas. Aprendo todos os dias e desejo muito que elas também aprendam comigo. Mas isso só elas poderão dizer.
E isto foi outra coisa que aprendi, a sentir-me sempre na dúvida. Será que estou a fazer isto bem?
Resumindo: Amor, orgulho, dúvida, respeito, proteção, crescimento, apendizagem, vida. Tudo isto as minhas filhas me ensinam todos os dias.
E esta aprendizagem ainda mal começou...
Porque isto de ser mãe é coisa para durar até ao forno!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Pedro Passos Coelho

"Quem anda sempre com um martelo na mão, tudo lhe parece um prego..."
A frase é de Pedro Passos Coelho no último congresso do PSD este fim de semana. Eu até acho, embora não tenha votado nele, que o atual primeiro ministro é um homem inteligente. Embora tenha que confessar que começo a ter as minhas dúvidas.
Senão vejamos:
Para que Portugal possa voltar aos mercados é necessário que sejam cumpridas todas as condições impostas pela Troika. Até aqui tudo bem, ou melhor tudo mal, que isto começa a ficar cada vez mais difícil comer, vestir, calçar e manter os filhos na escola, enquanto se continuam a pagar impostos e empréstimos de casas e carros...
Agora as medidas, acho eu, deviam ser no sentido de fazer crescer a economia de Portugal. Não é verdade?
Ora se as empresas não aguentam os impostos e continuam a mandar trabalhadores para o desemprego, que por sua vez perdem poder de compra e deixam de pagar impostos...
Se não se consome, não se produz, se não se produz não se pagam impostos, se não se pagam impostos... Já perceberam?
Pois parece que o senhor Passos Coelho que é tão inteligente (e bem apessoado, como se diz na minha terra) só agora começa a perceber esta coisa tão básica e elementar.
Na semana passada o governo anunciou uma quebra de não sei quantos milhões na cobrança de impostos. Resultado, claro está do enorme crescimento do desemprego que já vai para aí nos 14% e com tendência a subir...
Sr. primeiro ministro não me diga que não tinha previsto que uma coisa tão básica e tão óbvia até para mim que sempre fui uma nódoa a fazer contas, ia interferir com os planos de cumprimento das metas impostas pela troika.
E já agora, tão ou mais grave ainda, será que os senhores do FMI também não tinham percebido isso?
Basta olhar para o exemplo da Grécia...
Indo pelo trocadilho fácil - Estão-se a ver gregos com a crise!!!
Comece mas é a pensar em fazer novas continhas à sua e à nossa vida, senhor primeiro ministro.
E não se esqueça de incluir na sua equaçãozinha, de segundo ou de terceiro grau, ou seja lá qual for o grau, que as pessoas para além dos impostos, também têm que comer, vestir, calçar e continuar a ter dinheiro para o basico. Sim porque enquanto os seus antecessores andaram a brincar com o nosso dinheiro, não nos pergutaram se estávamos de acordo. E convenhamos não foi o povo que pôs o país no estado em que está. Porque é que temos que ser nós a pagar? Porque é que ninguém vai pedir contas ao Pinóquio, também conhecido por Engº Sócrates?
Porque é que o cobarde maior deste pequeno país à beira mar plantado pode continuar impunemente em Paris, a fazer um pseudo-curso de filosofia (devia ser era de roubo e extorsão, mas aí, claro ele já tem um mestrado), e nós temos que continuar aqui a levar com as consequências das asneiras dele?
Mas será que aquele desgraçado não pode escorregar numa baguete bem barrada com manteiga e partir qualquer coisinha? Tipo a língua, ou o nariz, ou o cóccix, o que iria lixar-lhe a vida por muito tempo.
Porque sabem que ele... Ninguém nunca provou nada, mas eu aposto que é verdade.
Estes políticos são mesmo uns escroques. Primeiro o bochechas, depois o algarvio cínico e cobarde, depois o Pinóquio e vamos ver como se sai o atual.
A minha opinião?
CAMBADA!!! Deviam obrigá-los a viver com o salário mínimo durante um mês para verem se eram capazes.
Eu por mim bem sei o tratamento que lhes dava.
Ferro 7!!!!

quinta-feira, 22 de março de 2012

As coisas que me fazem confusão

Faz-me confusão que as pessoas não atravessem nas passadeiras e simplesmente se ponham a "tourear" os carros no meio da rua, passando devagar, sem olhar e se temos a ousadia de lhes apitar, ainda olhem com ar recriminador. Até já me insultaram, acreditem ou não. Mas também não pensem que eu me calei...
Faz-me confusão que hoje em dia toda a gente estacione, como se diz na minha terra "a torto e a direito", sem pensar nas consequências que isso pode ter para os outros. Mais me espanta que sempre que eu chamo a atenção das pessoas (a frase que circula no facebook - estupidez não é deficiência já eu usei há muito tempo atrás ), ainda me insultem e falem como se estivessem carregadinhos de razão.
Faz-me confusão que ninguém seja capaz de levantar um dedo para defender alguém. As pessoas passam na rua, podem ver alguém a ser esfaqueado e ninguém diz nada, ninguém faz nada, ninguém quer saber...
Faz-me confusão que se use a crise como desculpa para quase tudo: conduzir mal, estacionar pior, atravessar fora do sítio, ser mal educado com toda a gente, não dizer se faz favor, com licença, desculpe e muito obrigado.
Faz-me confusão que os frequentadores dos sites só façam comentários negativos às coisas, só tenham coisas más para dizer e destilem o seu veneno e frustrações em cima de pessoas que nem conhecem.
Faz-me confusão que o meu vizinho de cima não ponha protecções nos pés das cadeiras e faça uma barulheira terrível todos os dias. Ou então muda os móveis de sítio a toda a hora.
Faz-me confusão que o carteiro aqui da zona nunca se digne tocar a campaínha e me obrigue a ir a toda a hora aos correios para levantar correpsondência registada.
Faz-me confusão que as senhoras de idade que frequentam o supermercado ao pé da minha casa achem sempre que estão com mais pressa do que eu...
Faz-me confusão que um bando de miúdos semi-adolescentes, mais para o lado do criança estejam na rua a enrolar charros e ninguém faça nada. Mas toda a gente se insurgiu contra o Toy por acender um pseudo charro na televisão.
Faz-me confusão que a Câmara de Santarém não tenha dinheiro para comprar uma latinha de tinta para pintar as passadeiras desta terra que estão praticamente invisiveis.
Faz-me confusão que a passadeira mais perto da minha casa tenha origem ou fim, dependendo do ponto de vista num muro ondem nem sequer existe passeio.
Faz-me confusão que as finanças nos possam roubar descaradamente e que não tenhamos hipótese de refilar. Quer dizer, eu refilo, mas não adianta nada. Só desabafo.
Faz-me confusão que as pessoas gritem com os filhos na rua ou em locais públicos e mais ainda que cheguem ao cúmulo de lhes bater.
Faz-me confusão que toda a gente precise de uma Bimby para cozinhar.
Faz-me confusão não gostar de chocolate que toda a gente diz ser uma coisa maravilhosa.
Faz-me confusão que a minha gata tenha uma carrada de brinquedos e goste mais de elásticos de cabelo e de uma moeda de vinte cêntimos que roubou de cima da minha secretária.
Faz-me confusão que as pessoas se preocupem mais com a vida dos outros do que com as suas próprias vidas.
Faz-me confusão que toda a gente se queixe de não ter dinheiro mas continue a andar de carro para todo o lado e os restaurantes mais caros continuem cheios e que continuem as filas na Segunda Circular na hora de ponta e os aviões continuem cheios.
Faz-me mais confusão ainda que pessoas que quase não têm dinheiro para comer não sejam capazes de abdicar de fumar, que é um verdadeiro vício de luxo, hoje em dia.
Faz-me confusão que os miúdos hoje em dia precisem de beber para se divertirem.
Faz-me confusão que os pais não eduquem os filhos e depois se queixem de que eles são malcriados e culpem as escolas disso.
Faz-me confusão que alguns pais se divorciem em simultâneo das mulheres e dos filhos, como se eles não fossem também do seu sangue.
Faz-me confusão ouvir as mulheres dizerem: "O meu marido não passa tempo comigo, nunca me leva a lado nenhum, não faz nada pela nossa relação..." E elas fazem? Ou simplesmente não têm vida própria e limitam-se a viver as vidas dos maridos?
Faz-me confusão que as pessoas não façam nada por elas e depois se queixem a toda a hora.
Faz-me confusão que uma mulher que seja vitima de agressão continue a viver com o seu agressor.
Faz-me confusão que as pessoas maltratem as crianças e mais ainda, ao nível do nojo, a pedofilia.
Faz-me muita confusão que os pais sejam capazes de torturar e matar um filho.
Tanta coisa...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A cabeça debaixo de água

Eu acho que já escrevi aqui que sou uma pessoa estranha e que tenho assim uma grande quantidade de coisas que faço ou não faço e pelo menos duas fobias - uma é às aranhas e é uma coisa horrorosa que já me deu alguns momentos muito embaraçosos e aterrorizadores; a outra é... estão preparados? Pôr a cabeça debaixo de água.
Eu sei. É estranho, mas eu não ponho a cabeça debaixo de água. Digamos que é assim uma espécie de fobia. Falta-me o ar (literalmente, claro). Não sei explicar, mas entro em pânico e começo a imaginar que vou morrer sem respirar e só consigo recuperar quando estou bem à superficie e com ar à minha volta.
Eu não me lembro muito bem de como isto começou, mas acho que foi numa colónia de férias onde estava um primo meu e que nós fomos visitar um dia. Qualquer coisa ali para os lados da Praia das Maçãs.
A minha mãe nunca entrou no mar na vida dela, nem nunca vestiu um fato de banho tão pouco e é tão especial (leia-se estranha) ao ponto de dizer que ir à praia lhe causa infecções urinárias??????????
Não me façam perguntas dificeis, também nunca percebi.
Voltando à Praia das Maçãs...
Eu estava com a minha mãe e a minha tia e era pequenina, nem sei se não terá sido a minha primeira ida à praia. Uma senhora muito simpática que estava ali ao lado ofereceu-se para me levar à água. Até aqui tudo bem. Das minhas recordações tenho presente alguém a dizer-me: Se abrires os olhos vais ver o fundo do mar. Esqueceram-se de me dizer que não devia abrir o nariz, nem a boca. Não correu nada bem. É a memória mais antiga que tenho com água e com a cabeça lá dentro.
Eu sou a única pessoa que conheço que sai do banho com a cara seca. Adoro lavar a cara, não pensem que não lavo, mas com água fria no lavatório, nada de água de duche a correr pela cara abaixo, que até quando vejo nos outros me perturba imenso.
Por isso nunca entrei numa piscina de cabeça, vulgo mergulho. Mas é que nem pensar. Eu entro pela escada como as pessoas civilizadas e as minhas filhas sabem que a pior coisa que pode haver para a estranha mãezinha delas é atirarem-me água à cara. Ou para cima no geral, porque odeio água fria e o meu termostato é muito diferente do das outras pessoas. O que para a generalidade da humanidade é uma água maravilhosa, para mim é um gelo. Nem queiram saber como é a água do meu banho. Mas só vos digo que ninguém consegue tomar banho comigo...
Aqui há uns anos estava de férias com o meu marido no Brasil. Tinhamos chegado no dia 30 de dezembro, felizes e contentes, pelo menos eu que adoro calor, para passarmos o reveillon. Como chegámos à noite já só tinha o dia 31 para ganhar uma corzinha que me tirasse o tom doentio de inverno que levamos deste país da treta cheio de frio.
Chegámos e fomos direitos à Praia do Forte. Picanha, caipirinha, cervejinha, matar saudades dos sabores da terra. Daí fomos para casa e quando chegámos a Iraci, que é uma pessoa maravilhosa tinha apanhado uns abacaxis no quintal e guardado para mim na cozinha. Comi um inteiro. Vá, não façam essa cara, são muito mais pequeninos do que os de cá e mais estreitos também. Mas são tão boooons. Até perfumam a boca.
Deitei-me cansadinha das nove horas de avião e dormi lindinha até me cheirar a café. A Iraci faz café como o das nossas avós, tipo cafe de cafeteira. Uma maravilha, acordar com o cheirinho a café, abrir a porta do quarto e dar de caras com uma mesa com fruta, café, pão, queijinho de Minas...
Tomei o pequeno almoço e praia com ela. Apanhei sol, comi mais umas coisinhas, bebi uns suquinhos, maravilhosos, como sempre e almocei uma bela moqueca de camarão com arroz branco, saladinha e muita cervejinha. Estão a anotar a quantidade de comida que eu já tinha no estômago por esta altura? É que é muito importante para o desenrolar da história.
Quando estavamos a acabar de almoçar apareceram uns amigos nossos de Portugal que também tinham chegado para o reveillon. Sentaram-se, acabamos de comer todos juntos e entretanto convidaram-nos para dar um passeio de barco ao longo da costa.
Vamos embora pensei eu, no meio da água vou ficar preta num instante. Lá fomos nós para um antigo barco de pesca (muito antigo), com um cheiro inacreditável a gasoleo.
Eu até nem enjoo em barcos, tenho carta de marinheiro e tudo, por isso não se ponham a fazer contas de cabeça.
Ao fim de um bocado comecei a sentir uma nausea muito familiar e recorrente durante as minhas diversas idas ao Brasil. Tentei ignorar, nem sei porquê porque já estou cansada de saber que não resulta.
Mas é que odeio vomitar.
Aguentei até conseguir e quando já não podia mais meti a cabeça para fora do barco e comecei a vomitar...
Vocês não me conhecem, mas eu quando começo... Já cheguei a fazer uma viagem do Algarve até ao Cartaxo sempre a vomitar. Só para terem noção.
Estava super mal disposta e o cheiro do barco começou a tomar conta da minha cabeça. Não me conseguia abstrair... Estava a ficar cada vez mais intenso. E eu vomitava, e vomitava, e... pronto já perceberam!
Às tantas não aguentei mais. Pensei: "prefiro morrer afogada do que com este cheiro". É verdade, sou uma pessoa muito dramática, mas estava mesmo mal disposta.
Atirei-me do barco para aí a uns 150m da costa, pelo menos é o que o meu marido diz. Quando ele me viu a sair disparada do barco pensou que eu estava doida e que tinha que estar muito aflita para me sujeitar a meter a cabeça debaixo de água. Atirou-se atrás de mim, claro, que se ficasse viúvo tinha que cuidar das miúdas e da gata sózinho. E acho que também um bocadinho porque gosta de mim. Não sei como mas consegui nadar até quase à praia. E digo não sei como porque eu a nadar sou uma coisa maravilhosa e as minhas filhas até costumam dizer que eu inventei um novo estilo - bruços mas com a cabeça sempre à tona e muito direitinha. Pronto.
Quando cheguei à praia, já com o meu marido a apoiar-me estava semi desmaiada, (há partes que não me lembro), cheia de frio, fico sempre cheia de febre com estas coisas, e só levantava a cabeça para continuar a vomitar.
Acreditem ou não vomitei até ao abacaxi da noite anterior. Imaginem lá como é que o meu estomago estava.
Fiquei não sei quanto tempo na praia com a cabeça deitada no colo do meu marido, a vomitar nada, porque já tinha o estômago vazio e cheia de frio.
Os nossos amigos regressaram e levaram toalhas para me taparem enquanto decidiam o que fazer com o meu quase cadáver... (estão a ver a tal veia dramática?).
Perdi a noção do tempo, lembro-me ouvir uma brasileira a dizer:
- Nossa eu acho que ela tá morta, viu? Porque tem as unhas tudo roxo...
E eu a pensar: A mulher tá parva coitada, não estou nada morta, estou a ouvi-la muito bem e a deixar de ouvir tudo outra vez.
Os nossos amigos queriam chamar um médico, mas o meu marido que infelizmente já está habituado a estas coisas, sossegou-os:
-Quando ela estabilizar levo-a para casa. A empregada tem lá um chá que lhe costuma fazer muito bem.
coitadinho, já me aturou tantas destas. Normalmente nas férias. Uma vez em Barcelona... fica para outra vez.
Já começava a escurecer quando me conseguiram levantar e levar até ao hotel onde eles estavam que era ali muito pertinho.
Deitaram-me numa cadeirinha da piscina, taparam-me com cobertores ou com um edredon, estavam para aí uns 30 graus, mas eu tremia...
Deram-me água morna a beber, e fui estabilizando. Comecei a pedir água e finalmente pedi para ir para casa.
Isto até pode parecer fácil, mas esperavam-me assim uns sete quilómetros por um caminho de terra batida, que é buraco, buraco, buraco...
Levantei-me, deitei toda a água que tinha bebido fora de um jato e lá consegui chegar ao carro e daí a casa.
Não preciso de dizer que a minha passagem de ano foi na caminha, meia em coma, como fico sempre quando tenhas estas coisas e a do meu marido no terraço lá de casa a brindar sozinho ao ano novo com uma cerveja na mão. Tadinho. Nem sei como ele me atura.
Foi a única vez na minha vida que meti voluntaria ou involuntariamente a cabecinha debaixo de água. E espero não repetir a experiência.
Um dia destes conto-vos o meu problema com as aranhas.
Ainda se vão rir...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Eu e os livros

A minha relação com os livros é tão antiga na minha vida como a minha relação com os tachos. Não acreditam? Pois para que conste eu com 4 anos já sabia ler. E bem!
Mas não faz mal que não acreditem. Na altura também ninguém acreditou em mim, as crianças são sempre incompreendidas. Eu que o diga!
Mas vamos ao que interessa.
Eu tinha quatro anos e fiquei doente pela primeira vez (lembram-se da história da injecção? Pois foi dessa vez) e como naquela época tão pré-histórica não havia Playstation, PSP, computadores ou sequer televisão no quarto, o que também não havia de valer muito a pena com apenas dois canais, e como eu nunca fui muito boa a estar quieta, chegou a uma altura em que já ninguém me podia aturar lá em casa e estavam capazes de me dar o que quer que fosse para eu deixar de me queixar da vidinha. Não se esqueçam que eu tinha quatro anos.
Adiante. Um dia depois do jantar, o meu pai e o meu padrinho, que morava connosco, antes de sairem para beber café perguntaram-me se eu queria que me trouxessem alguma coisa.
- Quero. Tragam-me livros daqueles que estão ao lado do balcão com o Mickey e o Pateta.
- Livros? Para que é que tu queres os livros? Nem sequer sabes ler.
- Sei sim senhor! Sei ler muito bem. Tragam-me lá os livros que eu já mostro se sei ou não sei. (Sempre fui tão refilona, graças a Deus).
- Pronto, pronto, não te zangues. Nós trazemos-te os livros.
E trouxeram. Eram dois livrinhos pequeninos, não sei explicar bem porque agora não vejo nada do género a vender, mas eram da Disney e tinham tipo um desenho em cima e um bocadinho de história em baixo ou ao contrário. Um era do Mickey e do seu fiel cãozinho Pluto e o outro do Goofy, que como todos sabemos é o Pateta.
- Lê lá ó espevitada. Já que sabes ler tão bem.
E eu li. Ah pois foi, calei-os num instantinho. Não lia rapidamente, mas conhecia as letras e sabia juntá-las e formar as palavras.
Ficou tudo de boca aberta, sem perceber nada do que se estava a passar.
Mas tudo na vida tem uma explicação e infelizmente tenho que admitir que, por muito que isso me agradasse, não sou nenhum génio.
A minha mãe trabalhava em casa de costura e para me entreter, e eu não era fácil, porque nunca me calava, comprou um livro da 1ª classe (para os mais novos, 1º ano do ensino básico) e ia-me mostrando as imagens e dizendo as letras - 'a' de águia, 'e' de égua, 'i' de igreja, 'o' de ovo e 'u' de uva. O livro continuava com o abecedário muito bem explicado com uns desenhos amorosos dos quais ainda me lembro muito bem (agora tenho 45 anos, mas continuo a falar pelos cotovelos) e na parte final quando era suposto já se saber juntar as letras, tinha algumas histórias.
Ainda me lembro que uma delas era o "Milagre das Rosas", aquela história da rainha Santa Isabel, que transformou o pão em rosas, lembram-se?
De tanto repetir fui memorizando as letrinhas. Sempre tive uma memória fantástica, agora é que estou um bocadinho mais esquecida, mas claro que é da idade. Ai...
Enfim, a minha mãe estava convencida que eu sabia o livro de cor e por isso quando eu pegava e 'lia' as histórias do mesmo, ela achava que eu estava só a 'fazer género'. Vou voltar a dizer, as crianças são sempre incompreendidas.
Por isso imaginem as caras deles a olharem para mim e verem uma verdadeira amostra de gente (eu fui sempre mínima) a debitar uma história que nunca tinha visto na vidinha.
E claro que nem preciso de dizer que levaram comigo no fim.
- Então? Sei ler ou não sei? Mas porque é que nunca ninguém acredita em mim? Se eu disse que sabia é porque sabia não é? Se não não dizia.
A lógica infantil é imbatível.
- Sabes sim senhora, muito bem, mas como é que aprendeste?
Pronto tive que lhes explicar o b-a, ba.
A partir daí nunca mais parei. Natal, aniversários, as minhas listas eram sempre de livros. Ainda hoje são, só que agora também incluem acessórios de cozinha...
Devia ter uns nove anos quando me ofereceram o primeiro volume de "Retalhos da Vida de Um Médico", de Fernando Namora, uns meses antes de começar a passar a série na televisão.
Nessa altura já tinha devorado tudo o que Enid Blyton tinha escrito, Cinco, Sete, Cinco Descobridores e o Seu Cão, Colégio das Quatro Torres, Colégio de Santa Clara...
Já tinha lido algumas coisas de Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós e a dona da livraria onde o meu pai costumava comprar os meus livros já não sabia que mais havia de recomendar porque achava que eu ainda era muito miúda. Portanto lembro-me que quando abri os meus presentes no dia de Natal desse ano, (na minha infância abriam-se no dia 25 e era o Menino Jesus que os dava, o pai Natal é uma invenção da Coca-Cola), descobri os dois volumes de Retalhos da Vida de Um Médico e um mundo completamente novo para mim. Foi preciso ameaçarem-me para me sentar à mesa, já com metade do primeiro volume lido.
Fiquei apaixonada de tal forma que enquanto não consegui ter os livros dele todos, guardei todo o meu dinheiro de semanadas, padrinhos, tios, tudo para a livraria e acho que chorei quando ele morreu, ja eu era adolescente. Era uma emoção chegar a casa com um livro novo e aquele cheirinho do papel, que ainda hoje amo, e descobrir personagens tão diferentes, vivências... mundos completamente novos para mim.
Depois veio Júlio Dinis, Júlio Verne, passei a fase policial, entrei no romance, lia tudo, mas mesmo tudo o que apanhava a uma velocidade que era impossível de descrever.
Uma paixão que descobri com quatro anos e que me ficou para a vida. Posso entrar e sair de uma loja de roupa sem nada, de uma sapataria, perfumaria, o que for, mas de uma livraria é dificil. Adoro a Bertrand que existe no shopping ao pé da minha casa e onde os empregados já me conhecem para lá de bem. É preciso estar muuuuuuuuuuuuito em baixo de finanças para resistir a um novo título. Adoro livros com histórias reais, romances históricos, romances, poesia, basicamente tudo.
Adoro ler.
O melhor emprego que tive na minha vida foi a escrever as páginas de literatura da revista Focus - pagavam-me para ler e ainda por cima me mandavam os livros. Era mesmo bom. Ficava estendida no sofá a 'trabalhar'. Arduamente, garanto que nessa altura trabalhava sempre arduamente.
Quando vou de férias levo sempre um carregamento de livros, normalmente um meio a dois por dia, dependendo do tema, do autor, do número de páginas. O meu marido fica doente:
- Precisas mesmo de levar isso tudo? Não podes comprar lá?
Não, não posso. Preciso de os escolher com calma, de os 'saborear' e decidir o que levar já faz parte do gozo das férias.
PORQUE É QUE NINGUÉM ENTENDE?
A par de cozinhar, ler é das coisas que mais gosto de fazer e aquela que me permite alhear-me do mundo.
Consegui passar esta paixão às minhas filhas. Não tão intensa, mas adoram ler o que me deixa muito feliz.
Tenho tanta pena das pessoas que dizem não gostar de ler.
Entrar num livro, na história, na cabeça das personagens, criar um filme na nossa cabeça é muito bom.
Por isso odeio os filmes dos livros. São tão insípidos. Nunca conseguem transmitir nada daquilo que eu estou à espera.
O meu livro de cabeceira? São tantos... A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, Os Cisnes Selvagens, Memórias de Uma Gueixa, Fauziya Kasinga - As Lágrimas do Silêncio (Mutilação Genital Feminina), Amanhecer, sei lá, são tantos.
O que estou a ler agora? Dei-te o Melhor de Mim, Nicholas Sparks e Raparigas da Villa de Nicki Pellegrino.
O que vou ler a seguir?
Ainda não sei, mas apetece-me voltar a reler algumas coisas como Os Maias e O Monte dos Vendavais, que uma amiga me ofereceu há algum tempo e que adorei.