quarta-feira, 9 de maio de 2012
A barragem da minha terra
Com a devida vénia a uma conterrânea "roubei" esta foto do seu Facebook.
Esta é uma foto da Barragem de Póvoa e Meadas, um sítio que me traz à memória recordações que nunca mais acabam. Recordações boas, muito boas!
Comecei a ir à barragem desde miúda. Sempre que ia passar os Verões ao Alentejo, e ia sempre, a barragem fazia parte da nossa vida.
Passava o tempo na casa do meu avô, um monte alentejano no verdadeiro sentido da palavra, onde aliás nasci, isolado de tudo e de todos, onde eu e os meus primos corríamos à vontade, esfolávamos os joelhos e fazíamos mil e uma asneiras completamente defendidos pelo meu avô que nos deixava fazer tudo.
De vez em quando havia um tio que dizia, vamos à barragem.
Epá, era num instante que arranjávamos toalhas e vestíamos fatos de banho. Excitadíssimos, claro. O meu primo é cinco anos mais velho e a irmã dele um ano mais nova do que eu e os três passámos muitos e bons momentos na casa do meu avô.
Regressando à barragem... (Começo a achar que as minhas filhas têm razão, eu disperso-me muito).
Ir para a barragem significava tudo o que as crianças gostam, água, mergulhos (excepto para mim, claro), sol e um bronzeado do tipo "cor dos torresmos" no fim do dia.
Mais tarde, já adolescente, para além do Verão, ia para a barragem com os meus amigos na segunda feira de Páscoa.
Íamos todos em grupo, a pé, com cestos e cestos de comida e bebida, equipados a rigor para um piquenique "lancheiro" em grande.
Belos dias que passei por lá. Apanhávamos amoras mansas, cantávamos, tomávamos banho quando o tempo permitia e voltávamos ao fim do dia cansados, meio bebidos e muito, muito sujos.
Também no Verão comecei a ir com amigas durante o dia, ver os moços, claro, mostrar as curvas em biquini e fazer aquelas coisas que as adolescentes fazem quando estão juntas e que na altura são o melhor do mundo - rir, conversar, viver...
A barragem também era sítio de paragem quando se saía do Pedro V, em Castelo de Vide, que agora é só restaurante, mas no meu tempo, era também discoteca.
De madrugada quando se voltava para casa passava-se e parava-se na barragem, quantas vezes para um banho madrugador, que nos sabia pela vida.
Quando vou à minha terra que obviamente se chama Póvoa e Meadas, gosto de virar em Nisa no caminho que passa por lá e rever aquele sítio, que é um verdadeiro oásis num Alentejo, que não é tão plano e árido como o que as pessoas acham que conhecem.
Lembro-me de quando era mais miúda a segunda feira de Páscoa ser na Barragem, mas com os pais.
Na minha terra existe a tradição do borrego na Páscoa, mas no almoço de domingo comem-se os maranhos e o sarapatel (não vou explicar para não ferir sensibilidades), mas posso dizer-vos que do cabrito e do borrego na minha terra só não se come a pele...
Portanto, no domingo, maranhos e sarapatel e na segunda feira o animal grelhava-se na barragem. Nessa altura ainda não havia ASAE e faziam-se belas fogueiras e belos assados ao ar livre.
Lembro-me do meu avô Álvaro, de quem tenho muitas, muitas saudades a olhar para filhos, filhas, genros, noras, netos e netas de volta de uma fogueira enquanto ele enrolava um dos seus cigarrinhos.
Tenho muitas saudades tuas avô...
Comíamos a carne grelhada, que é ótima, com casqueiro alentejano, vulgo pão, e eventualmente uns pacotes de Pála-Pála (batatas fritas).
Por isto tudo e muitas outras coisas que marcaram a minha infância e adolescência agradeço à Maria Manuela Fidalgo Marques, minha conterrânea e amiga virtual (por enquanto) pelas fotos que partilhou.
Obrigada.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
É bom ler o entusiasmo que põe na escrita e que bem descreve lugares ,momentos e sensibilidades .Por isso o meu agradecimeto pela ternura com que fala da Família e especialmento do Ti Álvaro que bem conheci e pelo orgulho da ser Povoense . Havemos de nos tornar amigas sem ser vitual
ResponderEliminar